A IRMÃ DE SHAKESPEARE
“Um teto todo seu”, é o título de um livro de Virginia Woolf, escrito no ano de 1929, trata de temas abrangentes, onde a autora fala sobre literatura, filosofia, sociedade, vida, mulheres e ficção; são dados de duas conferências que fez em estabelecimentos de ensino para mulheres em Cambridge. Virgínia, na época acreditava que a mulher precisava ter dinheiro e um teto todo seu se pretendesse mesmo escrever ficção, levantando a questão da sujeição intelectual da mulher e como as circunstâncias atuam sobre o trabalho das que pretendem se tornar escritora. Chama a atenção das dificuldades enfrentadas pelas primeiras mulheres escritoras quanto ao seu desenvolvimento intelectual, daí a inexistência na época elizabetana de nenhuma “irmã de Shakespeare”, mas que um dia poderia surgir se aquela que escreve procurar destacar situações que estiver fora do campo da experiência masculina, lembrando que a ficção deve-se ater-se aos fatos e, quanto mais verdadeiros os fatos, melhor a ficção.
Quando Virgínia “profetizou” o surgimento da “irmã de Shakespeare”, ela deu o prazo de um século a partir do ano de 1929; ainda não chegamos lá, mas vejamos o que ela deixou dito: “... Pois minha crença é que, se vivermos aproximadamente mais um século - e estou falando na vida comum que é a vida real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente – e tivermos, cada uma, quinhentas libras por ano e o próprio quarto; se tivermos o hábito da liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco da sala de estar comum e virmos os seres humanos nem sempre em sua relação uns com os outros, mas em relação à realidade, e também o céu e as árvores ou o que quer que seja, como são; se olharmos mais além do espectro de Milton, pois nenhum ser humano deve tapar o horizonte; se encararmos o fato, pois é um fato, de que não há nenhum braço em que nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que nossa relação é para com o mundo dos homens e das mulheres, então chegará a oportunidade, e o poeta morto que foi a irmã de Shakespeare assumirá o corpo que com tanta freqüência deitou por terra. Extraindo sua vida das vidas das desconhecidas que foram suas precursoras, como antes fez seu irmão.”
E a respeito da condição da mulher o que pensava uma nobre poeta nascida no ano de 1661, lá pela Inglaterra? Veja esses versos de Lady Winchilsea: Alas! A woman that attemps the pen, / Such a presumptuous creature is esteemed. / The fault can by no virtue be reddemed. / They tell us we mistake our sex and way; / Good breeding, fashion, dancing, dressing, play. /Are the accomplishments we should desire (...)
Tradução livre: Ai da mulher que tenta a pena! / É vista como tão presunçosa criatura / que nenhuma virtude pode redimir-lhe a falha. / Dizem-nos que confundimos nosso sexo e maneiras; / Boa educação, moda, dança, roupas e divertimentos, / Eis os dotes que deveríamos desejar