Henriqueta
Edson Gonçalves Ferreira
Fui ao médico fazer exame revisional para voltar ao trabalho o que, rotineiramente, pedem. O médico, depois de me examinar, leu o prontuário que eu preenchera e, depois, me disse: _ Menino, você vai viver uns 100 anos! Dei uma gargalhada e, respondi: _Se Deus quiser e eu tiver qualidade de vida, quero. E, então, me lembrei da Tia Henriqueta...
Contei o caso para ele. Minha tia chegou ao Brasil, antes da Abolição da Escravatura, por volta de 1879 e, inclusive, tenho uma carta dela, enviada de Portugal que conta o enterro da minha bisavó Felicidade Pinto da Costa (o nome da minha bisa não é bonito, não é verdade?). Na carta, ela conta quantos círios, quantos estandartes, quantas carpideiras teve o enterro.
Conheci minha tia, portanto, já velhinha, velhinha e, depois, quanto fui para o Mosteiro, deixe a minha tia feliz, feliz. Ela era solteirona e criou seis moças e, inclusive, uma delas é a Luzia, minha prima que mora em São Paulo. Assistia a todas missas do Santuário de Santo Antônio e mora defronte do Santuário.
Ela morreu aos 106 anos de idade. Eu não estava em Divinópolis. Estava em São Paulo. Minha mãe contou-me que, na hora da morte, ela que, então, morava na casa da Tia Aurora Ferreira Valério, pediu que cantassem a música "Caminho, verdade e vida".
Mamãe falou que ela e tia Eulina começaram a cantar a música com esse título, versão nova. A Tia Henriqueta, então, segundo história da minha mãe, sentou-se na cama, já moribunda e disse: _Estás a cantar a música errada. Com a voz de moribunda, começou o canto que ela queria e morreu! _Será que eu vou ter essa força até para morrer, Deus!
Divinópolis, 01.02.09