Pra saudar Iemanjá
Por enquanto, Salvador só pensa em saudar Iemanjá. Depois, vem o seu liberalíssimo carnaval.
Amanhã, 2 de fevereiro, o soteropolitano cumpre, mais uma vez, um ritual sagrado: vai à enseada do Rio Vermelho e participa da ruidosa festa no mar, que Dorival Caymmi cantou, com desenvolto carinho e bem baiana devoção.
Digo e repito: é um belíssimo espetáculo de fé, com uma acentuada dose do profano. Um espetáculo belíssimo até para aqueles que não mantêm aproximação ou intimidade com os terreiros de Candomblé. Como eu.
Nestes mais de cinquenta anos de Bahia, só conheci o terreiro do Gantois.
Estive lá quando ainda era estudante de Direito.
Minha turma - bacharelandos de 1961 - visitou o referido terreiro levada pelo saudoso professor Estácio de Lima, titular da cadeira de Medicina legal e um apaixonado pelo Candomblé.
Meus colegas, sem exceção, sonhavam em conhecer Mãe Menininha, a "Oxum mais bonita", na canção impecável de Dorival Caymmi.E tinha gente de todos os credos e até sem credo.
Foi emocionante. A visita, que durou algumas horas, ficou-me para sempre na memória.
Como também me ficaram na lembrança os quitutes (sagrados) servidos no famoso terreiro: vatapá, caruru, abará e muito acarajé, com e sem pimenta.
Depois do Gantois, nunca mais pus os pés em um terreiro. E olhe que na Bahia existem terreiros que são "verdadeiras catedrais de Orixás".
Recusei tentadores convites para visitá-los outra vez.
Declinei desses convites porque me satisfizera em conhecer Maria Escolástica da Conceição Nazaré, a Mãe Menininha, já naquela época considerada a Yalorixá mais querida do Brasil.
Ela está enterrada em Salvador, no Jardim da saudade, a poucas quadras da sepultura de Maria Luiza Jucá, minha mãe.
Já não preciso dizer que conheço muito pouco o Candomblé.
Quero, entretanto, repetir, que apesar de católico (mais ou menos) praticante, vejo-o com o devido e indispensável respeito.
Significa que saúdo Oxalá com a mesma atenção que dispenso ao Senhor do Bonfim. Só para lembrar, Senhor do Bonfim, no Candomblé, é Oxalá.
O estranho é que, quando reafirmo este meu posicionamento ecumênico ou tolerante, sou censurado severamente por alguns cristãos que me circundam. Não ligo.
Devo ainda confessar, que a história dos Orixás sempre me fascinaram.
Até porque, nenhum deles é fazedor de mazelas e nem semeador de maldades.
São protetores; guias.
Só que, para dar-lhes crédito, é preciso conhecê-los. Após isso, será possível admirá-los; respeitá-los; até amá-los.
*** *** ***
Quem priva da minha intimidade, sabe que o meu Orixá é Xangô. Não sei por quê. Muitos defeitos e virtudes atribuídos aos filhos desse Orixá não batem com o discreto perfil deste péssimo cronista.
Vou dar só um exemplo, e ficarei nele. No livro Candomblé - A panela do segredo, seu autor, Pai Cido de Òsum Eyín, diz que são mulherengos os protegidos de Xangô.
E afirma, peremptório: "Pobre das mulheres cujos maridos são de Xangô!"
Com relação a este cauteloso e experiente escrevinhador, isto não é verdadeiro... Sua história lhe não permite mentir.
Mas a crônica de hoje é pra saudar Iemanjá. Afirmei acima por que admirava e respeitava os Orixás. Não faz mal redizer, para lhes confirmar a qualidade de artífices do amor; portadores da paz.
É o caso, claro, de Iemanjá, que só transmite confiança, esperança e brandura.
Dou um exemplo: Rainha do mar, ela alimenta milhares de famílias com saborosos peixes trazidos pelos pescadores, que lhe devotam incondicional amor.
Não é por acaso, que, segundo os estudiosos do Candomblé, ela tem como principal tarefa "zelar pela família".
Por conseguinte, querer bem a Iemanjá, não é pecado...
Odó-Ìyá!
Por enquanto, Salvador só pensa em saudar Iemanjá. Depois, vem o seu liberalíssimo carnaval.
Amanhã, 2 de fevereiro, o soteropolitano cumpre, mais uma vez, um ritual sagrado: vai à enseada do Rio Vermelho e participa da ruidosa festa no mar, que Dorival Caymmi cantou, com desenvolto carinho e bem baiana devoção.
Digo e repito: é um belíssimo espetáculo de fé, com uma acentuada dose do profano. Um espetáculo belíssimo até para aqueles que não mantêm aproximação ou intimidade com os terreiros de Candomblé. Como eu.
Nestes mais de cinquenta anos de Bahia, só conheci o terreiro do Gantois.
Estive lá quando ainda era estudante de Direito.
Minha turma - bacharelandos de 1961 - visitou o referido terreiro levada pelo saudoso professor Estácio de Lima, titular da cadeira de Medicina legal e um apaixonado pelo Candomblé.
Meus colegas, sem exceção, sonhavam em conhecer Mãe Menininha, a "Oxum mais bonita", na canção impecável de Dorival Caymmi.E tinha gente de todos os credos e até sem credo.
Foi emocionante. A visita, que durou algumas horas, ficou-me para sempre na memória.
Como também me ficaram na lembrança os quitutes (sagrados) servidos no famoso terreiro: vatapá, caruru, abará e muito acarajé, com e sem pimenta.
Depois do Gantois, nunca mais pus os pés em um terreiro. E olhe que na Bahia existem terreiros que são "verdadeiras catedrais de Orixás".
Recusei tentadores convites para visitá-los outra vez.
Declinei desses convites porque me satisfizera em conhecer Maria Escolástica da Conceição Nazaré, a Mãe Menininha, já naquela época considerada a Yalorixá mais querida do Brasil.
Ela está enterrada em Salvador, no Jardim da saudade, a poucas quadras da sepultura de Maria Luiza Jucá, minha mãe.
Já não preciso dizer que conheço muito pouco o Candomblé.
Quero, entretanto, repetir, que apesar de católico (mais ou menos) praticante, vejo-o com o devido e indispensável respeito.
Significa que saúdo Oxalá com a mesma atenção que dispenso ao Senhor do Bonfim. Só para lembrar, Senhor do Bonfim, no Candomblé, é Oxalá.
O estranho é que, quando reafirmo este meu posicionamento ecumênico ou tolerante, sou censurado severamente por alguns cristãos que me circundam. Não ligo.
Devo ainda confessar, que a história dos Orixás sempre me fascinaram.
Até porque, nenhum deles é fazedor de mazelas e nem semeador de maldades.
São protetores; guias.
Só que, para dar-lhes crédito, é preciso conhecê-los. Após isso, será possível admirá-los; respeitá-los; até amá-los.
*** *** ***
Quem priva da minha intimidade, sabe que o meu Orixá é Xangô. Não sei por quê. Muitos defeitos e virtudes atribuídos aos filhos desse Orixá não batem com o discreto perfil deste péssimo cronista.
Vou dar só um exemplo, e ficarei nele. No livro Candomblé - A panela do segredo, seu autor, Pai Cido de Òsum Eyín, diz que são mulherengos os protegidos de Xangô.
E afirma, peremptório: "Pobre das mulheres cujos maridos são de Xangô!"
Com relação a este cauteloso e experiente escrevinhador, isto não é verdadeiro... Sua história lhe não permite mentir.
Mas a crônica de hoje é pra saudar Iemanjá. Afirmei acima por que admirava e respeitava os Orixás. Não faz mal redizer, para lhes confirmar a qualidade de artífices do amor; portadores da paz.
É o caso, claro, de Iemanjá, que só transmite confiança, esperança e brandura.
Dou um exemplo: Rainha do mar, ela alimenta milhares de famílias com saborosos peixes trazidos pelos pescadores, que lhe devotam incondicional amor.
Não é por acaso, que, segundo os estudiosos do Candomblé, ela tem como principal tarefa "zelar pela família".
Por conseguinte, querer bem a Iemanjá, não é pecado...
Odó-Ìyá!