Pra que serve uma Les Paul preta?

Primeiramente, o que vem a ser uma Les Paul? Uma caneta importada? Uma bolsa de patricinha? Não, não, não. Nada disso. Quem gosta de rock deve saber tratar-se de um modelo de guitarra fabricada pela tradicional marca Gibson. Há um famoso videogame musical, chamado Guitar Hero, em que o jogador pode escolher o personagem e a guitarra com que vai jogar. Eu não gosto de jogar videogame. Aliás, eu não gosto de jogar. Não que eu não goste de jogos: eu apenas não gosto de jogar. A não ser o futebol, no qual sou aquilo que chamam de “pato”. Mas nem este eu estou podendo, pois parece que meu joelho direito já era. Pois bem. Juliette, minha filha, foi jogar Guitar Hero outro dia desses e escolheu jogar com uma mocinha. Na hora de escolher a guitarra ela foi com uma Les Paul preta. Então eu pensei: que tremendo bom gosto. A danadinha tem um formidável bom gosto. Eu nunca falei pra ela que a Les Paul é o meu modelo preferido, e ainda assim ela gosta do mesmo tipo de guitarra que eu. Eu não sou guitarrista. Nem ela. Aqui em casa só temos um violão Gianini e uma imitação mais barata do modelo tradicional da guitarra Fender, que é outra marca tradicional. Não somos uma família de músicos. Vivemos a música com razoável intensidade. Como apreciador de culturas, devo estar contaminando os meus.

Pra que serve tudo isso? Pra que serve uma Les Paul preta? Pra que serve um violão? Pra que serve o rock’n’roll? Pra que serve a música? Pra que serve um tambor? Pra que serve fazer furos em um pedaço de bambu e dele extrair sons? Pra que serve cantar? Pra que serve a língua e a cultura? Pra que serve a roda? Pra que serve o fogo? Pra que serve o tesão de viver? Pra que serve a existência? Pra que serve o silêncio?

A vida não serve pra nada – a não ser vivê-la. A vida não tem uma finalidade. Vivemos, simplesmente. E isso é a melhor coisa que se conhece. Provavelmente não exista outra melhor.