Apologia aos três macacos

Conheço pessoas que antes de tomar um medicamento, lêem a bula de cabo a rabo, com atenção redobrada na parte que se refere às contra-indicações, advertências e aos efeitos colaterais. Assim elas ficam sabendo dos riscos inerentes nos componentes químicos, que podem causar: cefaléia, distúrbios gástricos, dilatação da pupila, ressecamento da boca, da pele. Etc; etc; etc. Enfim, o cara desvenda a fórmula da bomba que está ingerindo e fica esperando o momento da explosão. E inevitavelmente ela explode.

Porque é exatamente assim que a nossa mente funciona. Como uma câmera que fotografa coisas boas e ruins, e depois as reproduz na íntegra. Se enviarmos a ela mensagens negativas, é exatamente esta imagem que a nós se revelará. Ao lermos todos os efeitos nocivos que algo que ingerirmos pode nos causar, invariavelmente estamos potencializando estes efeitos e nos tornando suscetíveis a estas reações.

À medida que a ciência e a tecnologia avançam, descortinam para nós um cenário de bactérias, vírus, fungos e parasitas que, na verdade sempre existiram, entretanto mantinham-se no anonimato. Ao serem apresentados, estes microorganismos diminutos, transformam-se em grandes bichos-papões dos tempos modernos. O alerta avisa que eles estão em todos os lugares e que precisamos nos precaver.

A neura é tanta que já enxergo vários olhinhos me encarando de dentro da esponja de lavar louça. Que a lixeira sobre a pia é outro abrigo de serzinhos macabros. Que os meus calçados a qualquer momento vão ser carregados por uma legião bacteriana. E agora até o celular! O que vai ser dos nossos ouvidos? Imagino os diabinhos praticando Power Jump nos meus tímpanos.

Se colocam o perigo a nossa volta, simultaneamente colocam o medo ao nosso encalço.Ao sentirmos medo dos perigos que nos rondam, abrimos a guarda para que eles nos alcancem. Estas advertências têm sido uma constante em nosso dia a dia. O nosso cérebro está repleto de bulas, cheias de contra-indicações e efeitos colaterais. Olhamos desconfiados para os alimentos, para os medicamentos, para as pessoas, para o nosso trabalho, para os nossos sentimentos, para os nossos sonhos, para o nosso sucesso. Esperamos que a qualquer momento algo dê errado, porque esta é a verdade que nos contam e que assimilamos.

Não que precisemos fingir que na vida não existe o mal. Somos protagonistas da realidade e não personagens de um conto de fadas. Mas se temos o poder de transformá-la (e isto já está comprovado), eliminando dos nossos pensamentos o negativismo e o medo. Por que nos atermos às informações coibitivas que irão germinar em nossa mente e criar o caos?

Sou defensora da teoria que afirma que as doenças são conseqüências, primeiro, dos distúrbios emocionais. E, por conseguinte, acredito que pessoas que tomem café, comam carne de porco, fruta do pé, andem descalças no inverno, podem viver cem anos, se assim o desejar e acreditar. Por outro lado, podem não fazer nada disto e morrerem aos cinqüenta ou sessenta, porque não desejaram, não acreditaram, não foram felizes.

Sou testemunha de pessoas que pararam de ir ao médico porque descobriram os prazeres da dança, da música, do convívio social, do resgate da auto-estima, de viver a vida. Esta descoberta inibiu na mente todos os pensamentos adversos e passou a produzir somente sensações de bem estar e felicidade. A mente recebeu o recado e o enviou ao corpo que passou a ser saudável.

A grande sacada do século é tomarmos consciência do poder que possuímos, e que só precisa ser desenvolvido. A energia que produzimos ou absorvemos é a nossa provedora e pode ser positiva ou negativa. A escolha é nossa. Por isso, mantenho a tevê desligada, e pego carona na atitude dos três célebres macaquinhos: só vejo, só ouço e só falo aquilo que me faz bem.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 31/01/2009
Reeditado em 31/01/2009
Código do texto: T1414921