Conversa de adversários

D- Alô.

L - Tô ligando só pra alertar que coisas estão fervendo no Brasil. Os caras tão entornando o caldo.

D - Preciso concordar com você, a coisa está mesmo difícil para aqueles lados. Mas creio que deva acontecer uma reviravolta a qualquer momento. Veja só quantas falcatruas têm sido descobertas e corruptos sendo desmascarados...

L - Que nada! Isto é só fachada! Desmascarados até são, mas punidos malandro, nunquinha!

D - Não confie tanto assim na impunidade do homem.

L - Eu não confio em ninguém. Por isso mesmo que tô apostando que os caras se sapecam, mas não vão pro forno. Sem chance!

D - Tem que haver a hora em que, alguém encontre a solução e acabe com esta falta de vergonha. Acredito nesta gente. Povo simples, honesto, trabalhador. Um país sem guerras, atentados...

L - Tá esquecendo da favela brother? Aquilo lá é uma guerra de elite. Os caras não têm cultura, mas tem armas, munição, money, costas largas, poder. São parceiros dos grandões. Uma máfia brasileira “cumpade”. Não tem pra ninguém, é a guerra do pó. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Se a polícia bobear, acorda com a boca cheia de formiga.

D - Com certeza a polícia vai dar um jeito, reagir. Os governantes vão ter que apoiar. Do jeito que está não dá para ficar.

L - Os governantes, cara? Tu tá falando dos engravatados? Fala sério! Aqueles são os piores. E olha que eles nem precisam de armas. Tão matando o povo devagarzinho, em doses homeopáticas. Sem sangue, porque eles são limpinhos. Tão matando de pobreza, de fome, de doença, de falta de cultura. Meu!Brasileiro que é honesto nunca viu tanto dinheiro na vida. Só ouve falar que os safados tão afanando tudo e fica imaginando, imaginando... Golpe de mestre!

D - Falando assim, até parece que não existem políticos honestos, que queiram consertar a situação do país. Você é pessimista demais! E não poderia ser diferente.

L - Pessimista não, realista sim! Véio abre o olho! Político honesto não sai do chão. Não decola, não chega nas alturas, sacou? O negócio é o seguinte, vou te explicar: Pra subir precisa de grana. Político honesto não tem grana. Tem que fazer conchavo. Sabe com é? Coligação, parceria, troca de favores. Aí o dinheiro aparece e o cara é eleito. Então tem que pagar as dívidas. Ajudar um aqui, promover outro ali, fechar o bico cá, os olhos acolá. Depois desta performance toda, o cara já não é mais o mesmo, pô! Tá afim é de encher o cofrinho. Fica tudo natural. Foi assim com o laranja.

D - Laranja?

L - Ô meu! O barbudo sem instrução. O cara era tudo o que o povo queria: simples, classe baixa, lutador, persistente, com pinta de guerrilheiro-herói. Perfecto! Virou laranja! Foi lá chegou no topo, agora tem que pagar a dívida. Ficou cego, surdo e mudo. O fogo tá ardendo e ele dá umas sopradinhas, pra fazer fumaça e enganar os trouxas. Simples, meu caro mestre!

D - Não sou seu mestre LÚCIFER! Sou mestre dos bons. Os que têm lugar garantido aqui no céu.

L – Pô! DEUS! O jogo é este esqueceu? Tu tá no time dos bons, e eu sou adversário. Não tenho culpa que tá difícil pra tu ganhar no Brasil. É que no meu time só tem craque!

D - Eles deveriam lembrar que se não queimam lá embaixo, vão queimar aí no inferno.

L - Psiu! Fala baixo que pode ter grampo! Preciso lotar isso aqui. E quanto mais gente, mais quente. Os de colarinho branco vão deixar isto aqui um luxo!... Que tal darmos uma espiadinha no Irã?

D - Por hoje chega. Estou cheio de pedidos para atender.

L - Só pode ser dos brasileiros. Êta! Povinho pra dar trabalho pros santos. Tira férias mané!

D – (Tu...tu....tu....tu....tu....)

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 31/01/2009
Reeditado em 31/01/2009
Código do texto: T1414754