DO CATASTRÓFICO [republicação]
O catastrófico, como o adjetivo diz, enxerga proporções de catástrofe em tudo. E acerta muito, principalmente na sua própria vida, quando a tem. Ele não é profeta nem guru. Não! Ele acerta, não porque "seca", mas porque ,desde que o Universo é Universo, tudo é transformação. Parte interessante da Cosmologia já afirma, há muito tempo, que, num mundo em evolução natural, as anomalias serão periódicas. É certo que nós, pelo poder transformador que nos é concedito pelo Ser Supremo (ou pela Natureza, como querem alguns) influenciamos a velocidade das transformações. Mas, também, é certo que, por termos capacidade de raciocínio-emocional podemos nos comover além de nossa prole direta e cuidarmos para que as transformações sejam benéficas à nossa natureza e à Natureza como um todo. Porém, o catastrófico não está preocupado em amealhar pessoas para a causa comum. Não! Ele quer mais é que não haja fraternidade nem confraternização, porque assim ele acerta mais. O catastrófico, por exemplo, olha para a sociedade de hoje e diz "esses tempos são ruins, os costumes estão pervertidos". Seria importante lembrar ao catastrófico de plantão que Cícero (Marcus Tullius Cicero), senador romano e orador (106 a.C - 43 a.C) afirmou também a célebre frase "o tempora! o mores!" (Ó tempos! Ó costumes!) contra aquilo que achava ser depravação de seus contemporâneos. Depois disso a higiene, os transportes, a expectativa de vida melhoraram muito. Até que as turbas catastróficas, apoiadas por uma religião de culpa, devastaram tudo. Mas Renascimento, Iluminismos e Modernismos reajeitaram novamente. Os catastróficos, num outro exemplo, chegaram a convencer populações ignaras que vacinas eram maléficas, lembram-se? Então, o catastrófico não gosta de novidades. Aliás, gosta! Para falar mal delas. Depois, se vive um pouco mais, adota as novidades como tradição e "desce a lenha" nas que vêm depois. Como a vida é experiência, logo experimental, um catastrófico jamais criaria uma lâmpada elétrica. É fato histórico, e está anotado em seu livro de experiências, que Thomas Edson inscrevia, a cada experiência que fazia com filamentos, que ainda não havia encontrado o material adequado, jamais desistindo. O catastrófico, como alguns dos amigos de Edson, ficam a espiar, metem defeito e parece personagem aquele desenho animado "Lippy & Hardy": "não vai dar certo, não vai dar certo... ó vida, ó dia, ó azar" fazendo coro com Cícero.
Então, pela nossa história, podemos fazer o seguinte: continuemos a criar, com todos os riscos que envolvem a criação, e esqueçamos o catastrófico de lado. Vamos nos divertir com a criança que há em nós, que quer criar, sentir, viver, sorrir. Já é uma catástrofe suficiente o catastrófico existir.
Grandes Abraços!!!!
Joseph Shafan
Publicado no Recanto das Letras em 27/12/2005
Código do texto: T90934