Janeiro é assim mesmo, sempre igual, seja aqui ou seja lá.
O mundo no microcosmo é semelhante ao macrocosmo. O que acontece em um acontece em outro. Nem é preciso ouvir e ver os noticiários diários ou ler os semanários, tudo se fica sabendo quando o mundo é pequeno por caminhos menos complexos. Basta ficar assentado no banco que fica na quina do balcão de lanches da minha Fábrica de Pães e ficar esperando as pessoas chegarem. Alguns apenas param para um dedo de prosa enquanto outros se assentam no banco ao lado e aí o papo vai longe. E assim janeiro de 2009 vai chegando ao fim enquanto a chuva cai com maior ou menor intensidade alternando horários, o aviso chegando rápido, mas não surpreendendo ninguém porque janeiro é assim mesmo, um mês quente e molhado.
Bem podia ter o ano começado de um jeito diferente, bem podia ter sido um mês diferente, sem tristezas. Mas cada mês tem as suas desditas não há porque um deles ser poupado pelo Senhor das Intempéries.
Dizem que depois da tempestade vem a bonança mas que gosto pode ter a bonança depois de uma tempestade que deixa centenas de famílias atingidas, dezenas de casas destruídas e tantos desabrigados? Não, não foi aqui, mas foi tão perto que nos atingiu obrigando as pessoas a fazerem alguma coisa. E sempre tem um contando que um tio, um primo, um parente, um conhecido perdeu tudo, está tendo que morar em casa alheia, em abrigos improvisados. Mas janeiro é sempre assim, você conserta de um lado, o diabo atrapalha do outro que essa é sua diversão, principalmente o diabo que veste calças e esconde os chifres debaixo do chapéu. E o risco de morte se acentua, porque vida não é risco, é dádiva, quando nos atrevemos por necessidade ou destemor enfrentar as estradas esburacadas em cima de pneus carecas. E assim a notícia de acidentes corre logo, é um que morre ali, é outro que morre aqui. São mortes tão estúpidas que não dá para entender, tragédias que atingem famílias, mas pior ainda é quando a tragédia ocorre quando alguém decide dar cabo da própria vida. Um jovem prestes a concluir seu curso superior que se descobre futuro pai e como não se sente preparado para isso prefere se enforcar mas antes enviando uma mensagem de justificativa pelo celular, sinal dos tempos modernos. Eu sinto tanta raiva quando isso acontece que tenho vontade de ressuscitar o indivíduo só para surrá-lo como um dia bem me lembro tive vontade de fazer com Ellis Regina e repetir com outros seres dotados de bênçãos e talentos que jogaram tudo fora em nome de um vazio existencial que tentaram preencher com drogas. Será que ninguém lhes contou que nada fica impune no Universo e que a vida é feita de ciclos reparatórios? E se fosse apenas um caso isolado, mas é um aqui, outro ali, sempre jovens perdidos na insegurança da vida e que não sabem lidar com fracassos. Ah, se pelo menos alguém lhes tivesse ensinado o valor da leitura para compreensão dos fatos da vida, esse bloqueio que nos impede de por as mágoas para fora seria pelo menos em parte atenuado. E aquelas coisas que pensamos que nunca acontecem com a gente, nem com gente perto da gente ou gente que você conhece, aconteceu aqui também: uma mulher bonita, inteligente, educada, bem amada sai para uma voltinha de navio na orla Atlântica com sua família, para realizar um dos muitos sonhos que lhe era possível e simplesmente morre. Mais uma que morre e as histórias se contradizem e eu que pensava que, quando a gente viajava de férias estava livre da morte, vejo que tinha pensamento errado e agora nem sei se quero mais viajar. E a crise que estoura na casa dos donos do mundo estoura aqui também e a cada dia é mais um que anuncia: foram trezentos os dispensados em empresa x, trinta e oito na empresa y e mais não sei quantos na empresa z e enquanto aumenta o número dos desocupados aumenta também o número de botequins e a violência doméstica. E nas ruas os caras pintadas interceptam o trânsito já caótico e ouve-se o grito de vitória dos aprovados no vestibular mas não se ouve o pranto dos que não passaram pelo gargalo da garrafa e vão ter que esperar mais um ano para outra vez tentar.
E os dias continuam com a chuva caindo e fevereiro se aproximando, mas não só de coisas ruins a vida é feita porque coisas boas também acontecem, há gente que nasce, há gente que casa, há gente formando, arranjando namorado ou trocando de carro. C’est La vie, diria minha professora de francês e amém digo eu enquanto fevereiro não vem.
O mundo no microcosmo é semelhante ao macrocosmo. O que acontece em um acontece em outro. Nem é preciso ouvir e ver os noticiários diários ou ler os semanários, tudo se fica sabendo quando o mundo é pequeno por caminhos menos complexos. Basta ficar assentado no banco que fica na quina do balcão de lanches da minha Fábrica de Pães e ficar esperando as pessoas chegarem. Alguns apenas param para um dedo de prosa enquanto outros se assentam no banco ao lado e aí o papo vai longe. E assim janeiro de 2009 vai chegando ao fim enquanto a chuva cai com maior ou menor intensidade alternando horários, o aviso chegando rápido, mas não surpreendendo ninguém porque janeiro é assim mesmo, um mês quente e molhado.
Bem podia ter o ano começado de um jeito diferente, bem podia ter sido um mês diferente, sem tristezas. Mas cada mês tem as suas desditas não há porque um deles ser poupado pelo Senhor das Intempéries.
Dizem que depois da tempestade vem a bonança mas que gosto pode ter a bonança depois de uma tempestade que deixa centenas de famílias atingidas, dezenas de casas destruídas e tantos desabrigados? Não, não foi aqui, mas foi tão perto que nos atingiu obrigando as pessoas a fazerem alguma coisa. E sempre tem um contando que um tio, um primo, um parente, um conhecido perdeu tudo, está tendo que morar em casa alheia, em abrigos improvisados. Mas janeiro é sempre assim, você conserta de um lado, o diabo atrapalha do outro que essa é sua diversão, principalmente o diabo que veste calças e esconde os chifres debaixo do chapéu. E o risco de morte se acentua, porque vida não é risco, é dádiva, quando nos atrevemos por necessidade ou destemor enfrentar as estradas esburacadas em cima de pneus carecas. E assim a notícia de acidentes corre logo, é um que morre ali, é outro que morre aqui. São mortes tão estúpidas que não dá para entender, tragédias que atingem famílias, mas pior ainda é quando a tragédia ocorre quando alguém decide dar cabo da própria vida. Um jovem prestes a concluir seu curso superior que se descobre futuro pai e como não se sente preparado para isso prefere se enforcar mas antes enviando uma mensagem de justificativa pelo celular, sinal dos tempos modernos. Eu sinto tanta raiva quando isso acontece que tenho vontade de ressuscitar o indivíduo só para surrá-lo como um dia bem me lembro tive vontade de fazer com Ellis Regina e repetir com outros seres dotados de bênçãos e talentos que jogaram tudo fora em nome de um vazio existencial que tentaram preencher com drogas. Será que ninguém lhes contou que nada fica impune no Universo e que a vida é feita de ciclos reparatórios? E se fosse apenas um caso isolado, mas é um aqui, outro ali, sempre jovens perdidos na insegurança da vida e que não sabem lidar com fracassos. Ah, se pelo menos alguém lhes tivesse ensinado o valor da leitura para compreensão dos fatos da vida, esse bloqueio que nos impede de por as mágoas para fora seria pelo menos em parte atenuado. E aquelas coisas que pensamos que nunca acontecem com a gente, nem com gente perto da gente ou gente que você conhece, aconteceu aqui também: uma mulher bonita, inteligente, educada, bem amada sai para uma voltinha de navio na orla Atlântica com sua família, para realizar um dos muitos sonhos que lhe era possível e simplesmente morre. Mais uma que morre e as histórias se contradizem e eu que pensava que, quando a gente viajava de férias estava livre da morte, vejo que tinha pensamento errado e agora nem sei se quero mais viajar. E a crise que estoura na casa dos donos do mundo estoura aqui também e a cada dia é mais um que anuncia: foram trezentos os dispensados em empresa x, trinta e oito na empresa y e mais não sei quantos na empresa z e enquanto aumenta o número dos desocupados aumenta também o número de botequins e a violência doméstica. E nas ruas os caras pintadas interceptam o trânsito já caótico e ouve-se o grito de vitória dos aprovados no vestibular mas não se ouve o pranto dos que não passaram pelo gargalo da garrafa e vão ter que esperar mais um ano para outra vez tentar.
E os dias continuam com a chuva caindo e fevereiro se aproximando, mas não só de coisas ruins a vida é feita porque coisas boas também acontecem, há gente que nasce, há gente que casa, há gente formando, arranjando namorado ou trocando de carro. C’est La vie, diria minha professora de francês e amém digo eu enquanto fevereiro não vem.