LÍNGUA VENENOSA
        Meus olhos atentos se perderam na conversa alheia.
        Discretamente me posicionei de modo que meus ouvidos
        capitassem todo o conteúdo do diálago.
        As duas moças se reencontraram e começaram a tecer
        as novidades.
        Uma delas ferrenha sutilmente destilava o veneno, enquan-
        to a outra passivamente respondia suas indagações.
        -E aí este bebe lindo é seu...
        -Sim, é o Hugo tem seis meses...
        - Hãaa, então, você se casou....
        - Não, eu e o pai dele namoramos mas não deu certo...
        - Hummmm, então, você teve ele solteira....
        - Sim....
        - Então, você tá morando com sua mãe....
        - Não, estou morando sozinha com ele.....
        - Há tá, onde....
        - Na rua da igreja da matriz...
        - Sim, me passa o endereço e anota meu telefone para
          combinarmos de por as fofocas em dia......
        Neste momento o bebezinho começa a chorar, mas a mãe
        não teve sossego da língua venenosa da conhecida.
        - E ai tá trabalhando, afinal não é fácil bancar filho,
          casa e dispesas sozinha...
        - Sim, estou trabalhando com computação gráfica e o pai
           dele nos auxilia....
        - Imagino que assim fica mais fácil, proque se com marido
          é difícil imagina sem.....
        E elas prosseguem, me admiro do veneno e o quanto as pes-
        soas são pequeninas.
        Saio do estabelecimento comercial compadecida da jovem
        mãe tolerante e educada que não reaje as provocações.
        E chego a conclusão a violência não é aquela que estampa
        noticiários e nos choca.
        Violência são as manifestações violadas em modos gentis
        que sabotam o outro, despejam sobre este uma carga ne-
        gativa e silenciosa que mina a auto estima.
                               camomilla hassan

          
CAMOMILLA HASSAN
Enviado por CAMOMILLA HASSAN em 30/01/2009
Reeditado em 30/01/2009
Código do texto: T1413447
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