Cada um por si e Deus por todos
A vida é uma montanha-russa de emoções, mas ultimamente tenho ficado desnorteada com tantos "loopings". É pancada atrás de pancada e o normal nesses momentos é procurar um ombro amigo e até mesmo uma grande ajuda, não só apoio moral.
O problema se intensifica quando estou afundando na areia movediça e não aparece ninguém pra me puxar. Convenhamos, quem numa hora dessas precisa ouvir: "é... complicado mesmo, mas isso passa..."? Isso não é amizade, é frieza e falsidade. Quero distância de pessoas assim. Porque se alguém me vê afundando e só há ele por perto, ele sabe muito bem que se não me ajudar, irei me afogar. E algumas falsas palavras de conforto não irão resolver meu problema. Mas, pior ainda é quando pessoas em quem confiava chegam perto e dão um empurrãozinho...
Bem, há algum tempo eu me vi rodeada de problemas envolvendo minha família. Estava desempregada e sem dinheiro quando recebi uma ligação inesperada. Foi um dia radiante para mim, não me sentia feliz daquele jeito havia muito tempo. Consegui um emprego no escritório de uma amiga. Ela me disse que sua assistente pedira demissão um dia antes e que ela precisava urgentemente de outra, então pensaram em mim. Um negócio pequeno, mas que exigiria muito da minha pessoa. No escritório eram apenas minha amiga, a mãe dela e eu. Na semana seguinte já comecei, toda empolgada. Mas logo na segunda semana de trabalho aconteceu outra tragédia em minha vida. Meu cachorro desapareceu e eu fiquei arrasada (acreditem, ele é da família). Estava tão mal que fui liberada do trabalho nesse dia. Pois bem, recebi o apoio da minha "amiga patroa" e de outras pessoas.
O tempo passou e "bum!", outra bomba (sem brincadeira, parece até macumba). Mais um problema sério, do tipo que não se pode contar para qualquer amiguinho de bar e faculdade. Recorri então à minha "amiga patroa", já que ela é uma mulher centrada e madura. Ela me ouviu pacientemente e "sentiu muito" por mim, mas não propôs nenhuma possível solução. Apenas ouviu mesmo. Até aí tudo bem, ninguém é obrigado a resolver o problema dos outros. Pelo menos ela não falou "calma, vai dar tudo certo", porque sabia eu não me deixaria tomar por um utópico otimismo, já que a situação não permitia.
Nesse meio tempo, eu estava fazendo de tudo para reter e pôr corretamente em prática as centenas de novas informações e tarefas que me eram dadas a cada dia no trabalho. Era um ramo com o qual eu nunca havia tido contato, portanto, tudo era novo. Eu me esforçava e ficava cansada, conciliando todas as pressões internas e externas. Mas tudo estava indo bem, ninguém parecia insatisfeito com minha performance, até porque, se estivessem, tinham liberdade suficiente para me falar. Críticas construtivas são sempre bem-vindas. Vez ou outra ouvia: "faça deste jeito que é melhor". Mas nada além disso, que é normal para qualquer iniciante.
Na terceira semana eu estava cheia de planos para meu futuro, apoiando-me numa possível estabilidade no escritório, já que tudo estava indo muito bem. Até que numa quinta-feira, perguntei a minha "amiga patroa" porque ela estava com o semblante tão preocupado. Ela e sua mãe então começaram a conversar comigo e explicar o motivo do desassossego. Ao que entendi, o escritório andava "mal das pernas". Pelo rumo da conversa, percebi no que ia dar, ou melhor, no que não ia dar. E acertei em cheio. Fui mandada embora de um jeito sutil, mas junto comigo foram minhas esperanças, meus planos e minhas tristezas.
Desci a ladeira aos prantos, muito chateada com a situação. Como pode, em três semanas apenas, alguém concluir que não precisa mais de uma assistente? A história toda ficou meio mal contada para mim. Sinceramente, se eu não estava indo bem, não estava agradando, prefiro que tivessem me falado. As duas sabiam que eu estava precisando muito daquele emprego e que estava cheia de problemas, mas não pensaram nisso. Na verdade, não sei o que elas pensaram. Só sei que ganhei um empurrãozinho na areia movediça.
E a sucessão de bombas e pancadas continuava, sem piedade... Amigos? Família? A quem recorrer se eles próprios são os problemas? Sentir-me sem rumo foi terrível. Ver que não havia por perto pessoas menos frias do que uma geladeira foi desanimador. Me desapontar com alguém a quem confiei minha amizade foi realmente triste. Mas sei que isso foi apenas mais um baixo na minha coleção de altos e baixos. E o velho ditado me veio à cabeça: "Cada um por si e Deus por todos...".
30 de Janeiro de 2009