Sobre super-heróis e sua imortalidade

Este tema surgiu em minha mente e plantou-se em meu coração ignorando a data oficial para homenagem aos pais. Simplesmente porque presença deles deve ser enaltecida como uma benção diária em nossas vidas. Percebi isto com maior nitidez, quando o meu pai partiu da minha.

Brincando com a imaginação: Se viver fosse como acampar; a mãe seria o colchão, o cobertor e o travesseiro; o pai seria a armação, a lona, a sustentação, a barraca inteira. Na primeira noite que passei sem ter pai me senti desprotegida. Como se um vento forte tivesse me arrancado a barraca no meio do acampamento e me deixado dormir ao relento.

Sou da geração dos filhos dos homens que não choravam (se o faziam, era escondido), durões, fortes, inabaláveis. Homens que foram educados para conceber a prole, nutri-la e protegê-la. Sem coragem de demonstrar sensibilidade eram “pais-personagem”. Mesmo assim, em suas desajeitadas performances onde a masculinidade sobrepunha os impulsos sentimentais, aos olhos dos filhos, eram grandes e perfeitos heróis.

Sobre os quais podíamos nos atirar sem medo nos braços (com músculos de aço), assim que chegavam em casa. Secretamente saber que nos protegeriam (com seus super-poderes), sempre que sentíssemos medo. E que poderiam nos acolher em seus joelhos (biônicos) para revelar-nos alguns de seus heróicos feitos. Causando-nos, com isto, um brilho de felicidade no olhar que só filho de super-herói possuía.

Os pais de hoje, frutos destes heróis austeros, são a perfeita evolução da genética. Muito mais fortes, são capazes de trocar fraldas, vestir, dar banho, alimentar. Muito mais ágeis conseguem ir ao médico, à escola, ao clube. Muito mais poderosos, se permitem amar, beijar, abraçar, brincar, chorar. Muito mais completos, além de heróis são os maiores amigos.

Porém, gostaria de me ater aos pais das gerações passadas que ainda estão junto aos filhos. Que já não possuem músculos de aço, joelhos biônicos e já perderam os seus super-poderes. Aos pais que muito carregaram, defenderam, protegeram e que hoje precisam ser protegidos. Aos super-heróis que envelheceram. Hoje tão frágeis outrora tão fortes.

Lembrar aos privilegiados filhos que ainda os têm junto de si, que desfrutem da sua presença e sorvam da sua sabedoria até a última gota. Porque infalivelmente o vento passa em nosso acampamento levando consigo a “barraca”. Não importa quão velha ela esteja, ao ser-nos arrancada sentiremos o frio e a insegurança de dormir ao relento.

Todavia, descobri que os super-heróis realmente são imortais e invencíveis, que mesmo depois de partirem continuam protegendo-nos de onde estiverem. Por vezes, tenho a certeza que meu pai me toma no colo (sobre os seus joelhos biônicos), me enchendo de segurança e felicidade que só os filhos de super-heróis possuem.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 30/01/2009
Reeditado em 30/01/2009
Código do texto: T1413286