Sua Majestade, a Vaidade!
Depois de quase um mês só sonetando ou trovando, duas notícias sobre o BBB9 me fazem retornar ao ofício de cronista, porque elas me convenceram a falar sobre a vaidade - um dos defeitos de caráter que mais nos fazem “pagar micos”, haja vista que, na maioria das vezes, detona completamente a nossa autocensura ou a torna complacente demais.
Mas, queiram notar que vou falar sobre a vaidade como defeito de caráter, não como suporte psicológico para aumentar a nossa auto-estima, posto que, desde que inventaram o espelho – físico ou sociocultural – todo mundo deseja, ostensiva ou secretamente, ser o mais bonito ou o melhor. Portanto, vaidade em nível aceitável, aquela que não nos expõe a ridículos, faz parte da natureza humana.
Mas, vamos aos fatos. Dois participantes desse Festival de Besteiras que é o BBB, agora na versão 9, foram selecionados como representantes da Terceira Idade: Naná, 61 anos, e Norberto, 66. Seria de se esperar que com mais anos nas costas eles apresentassem maior dose de compostura, sensatez e sagacidade do que aquela moçada BB (bonita e burra), até mesmo para poder superá-los na corrida pelo prêmio de um milhão de reais, certo?
Errado! O coroa, depois de “pagar um mico” por julgar-se “atração fatal” das assanhadas sisters do BBB9, acabou sendo considerado como “o mais chato da casa”, e, no segundo paredão, enfrentando a Naná e uma bela lourinha, levou um pontapé na bunda de 55% dos votos. Ao receber a notícia, vibrou intensamente como se tivesse ganho alguma coisa e, no outro dia, declarou aos jornalistas que estava esperando propostas para fazer TV ou cinema! Por Deus e todos os diabos, ou já estou me desconectando do meu site-cérebro e não entendo mais nada – porque também já pertenço à turma da Terceira Idade – ou o sujeito está entupido de vaidade por todos os poros!
Agora, a Naná. Tão babaca quanto o Norberto, talvez tenha escapado do paredão porque o cara se tornou a opção quase obrigatória dos idiotas que se dão ao trabalho de votar nesses paredões do BBB. Vive fazendo comentários deselegantes a respeito dos outros participantes, e adota, de vez em quando, uma fingida postura de mãezona para as meninas. Hoje, leio no jornal que, um dia após o paredão, ela declarou para uma outra participante: “Nossa, o Bial nem falou comigo direito! Acho que só tinha dois na disputa e o meu paredão era de mentira. Acho que ninguém votou em mim.”
Pelos chifres de Satanás, aonde a Globo foi buscar tal figuraça? Eis uma doida mansa a debater-se em alucinada vaidade, pois chega a admitir a possibilidade de que, dos mais de 15 milhões de votos, ninguém votou nela! Ri tanto, ao ler a notícia, que a minha filha, em visita regulamentar à casa paterna, estranhou: “Que foi, pai, recebeu aumento da aposentadoria?”
Ora, mas eu também já paguei grandes micos por causa da minha vaidade. Vou contar só um deles, já que o relato de todos daria um livro, com certeza.
Quando entrei para a Faculdade de Letras, em 1976, eu já era professor de Língua Portuguesa desde 1968. Na minha vaidosa opinião, eu era “o bom”, já estava “feito e bem feito” como professor, e a Faculdade de Letras me serviria apenas para a aquisição de um diploma de Curso Superior, formalidade burocrática indispensável para conseguir um melhor status na carreira do Magistério.
Pois bem. Chegou Lourdes Barroqueiro, minha notável mestra de Língua Portuguesa I, e, a título de avaliação dos conhecimentos da turma, pediu uma redação. Fiquei irritado! Eu, já professor, já “sabichão”, ser obrigado a apresentar uma redação para ser avaliado? Maldição, eu não precisava de nenhuma avaliação: se eu já era professor, com certeza sabia escrever corretamente!
Entretanto, para não criar um caso com a professorinha, fiz a redação e entreguei-a, lembro-me muito bem, com um ar superior, seguro de que ela iria ter uma bela surpresa.
Teve. Encontrou 7 erros! Todos de acentuação gráfica, pois, exercendo a profissão de professor, paralelamente à de funcionário do Banco do Brasil, no interior do Maranhão, e dedicando todos os meus fins de semana a “exaustivas pesquisas” em bares, puteiros e cabarés das cidades onde trabalhara, não tivera tempo para pesquisar as mudanças preconizadas pela Reforma Ortográfica de 1971, que abolira quase todos os acentos diferenciais.
A partir daí, recolhi-me à minha insignificância de aluno e dispus-me a aprender. Precisava.