Um caso de descaso
Brasileiro já sabe que a única maneira de se safar das quilométricas filas dos bancos é sacrificando o almoço. Come-se frio, mas se ganha tempo. Meu Brasil brasileiro!
Naquele dia, enquanto nós - os clientes da fila - tivemos a brilhante idéia de enfrentá-la ao meio dia; 95 % dos funcionários da agência tinham resolvido sair para almoçar. De todos os guichês disponíveis na nossa frente, apenas um estava funcionando. Uma moça tensa de tez esverdeada – acredita-se que de fome- trabalhava mecanicamente, como um belíssimo protótipo do funcionário do futuro: o robô.
Quando se está numa fila de banco, o relógio automaticamente trava e dá início ao teste de controle de nervos. É preciso pensar positivo e acreditar que todos os dez sortudos que estão a sua frente não levarão mais de um minuto, cada, em frente ao caixa. Caso a expectativa se confirmasse, dali a dez minutos eu seria atendida.
Um, dois, três, dez, quinze, vinte (expectativa não confirmada). Estou chegando perto da mulher robô e ela ainda não soltou um sorriso sequer. Faltam somente dois sortudos agora. A mulher-robô consulta o relógio. Está cada vez mais verde. O meu estômago começa a reclamar, falta dois, um. O homem a minha frente encosta-se no balcão, tira o cartão da agência da carteira e solicita a mulher- robô- séria- verde:
- Você pode consultar o meu saldo? Preciso fazer um saque.
- Sinto muito senhor, não posso lhe informar o seu saldo.
Não acredito no que estou ouvindo. Como a mulher – robô- verde -não pode dizer ao dono da conta, quanto de dinheiro ele tem depositado no banco onde ela trabalha?
- Sou o titular da conta. Aqui estão a minha identidade e CPF para você conferir.
- Não posso lhe informar senhor. Diga apenas o quanto quer sacar.
- Moça, só posso lhe dizer o quanto quero sacar, quando você me disser quanto eu tenho disponível na conta.
- Sinto muito, são normas da agência. Quanto o senhor vai sacar?
Em silêncio fiz minha prece: “Superman apareça e salve este indefeso cidadão”!
- Você está me dizendo que eu tenho conta na P.. (piiiiii) deste banco e você não está autorizada a dizer o quanto destes enormes cofres é meu? Você quer que eu me dirija ao caixa eletrônico e depois retorne ao final da fila para fazer o saque? Pois saiba que é o meu dinheiro e o das pessoas desta fila que pagam o seu salário, sua... (piiiiiiii) “De cara de monstro verde, e feio!” Completei em meu íntimo.
O homem foi embora, e pelo que sei não voltou. Fui para casa indignada pelo descaso. Os bancos lucram bilhões e bilhões às nossas custas, e nos dão este tipo desumano e degradante de tratamento. É uma vergonha que, o governo federal, por ter o rabo preso na nebulosa gastança dos cartões coorporativos, assista inoperante a este desrespeito com o povo. Como se fossemos- segundo um lúcido escritor amigo meu - um rebanho de gado marcado em direção ao curral.
Precisamos dar um basta! Tratem-nos como ignoráveis animais, mas depois não reclamem quando ganharem fortes e merecidos coices.