SEM AVISAR, SEM ESPERAR

Ao som de Linger (Cranberries)

Clarissa gostava da casa arrumada e suas coisas no lugar. Tinha dado trabalho, mas tudo estava como ela queria. Se vez por outra deixava a bolsa no sofá da sala era por preguiça, mas sabia que ao acordar, ela continuaria por lá. No mais, tudo era regrado. As plantas eram bem cuidadas. As roupas nos cabides e gavetas certas. O piso era brilhoso, as cortinas na posição que ela gostava, sem iluminar tanto, sem escurecer muito, a meio tom. Se ia para o quarto, apagava a luz da sala e vice-versa. Tudo era impecável, tudo estava no lugar. Até mesmo os diversos cadernos do jornal de domingo, nada de espalhá-los pelo sofá ou em cima da mesa. Clarissa era feliz assim, com suas regras. Com seu mundo perfeito. Vivia só, mas bem acompanhada.

Até que veio um vento, desses que surgem de repente. A poeira se espalhava pelo piso alvo. As cortinas saiam do lugar, ora claro, ora escuro. Gavetas desarrumadas, roupas fora do lugar, pedaços de jornal por toda a parte. Um vento que desalinhava os cabelos de Clarissa, que eriçava os pêlos de seu braço, causava arrepios, sussurrava em seu ouvido e que não se importava com as regras da casa. E do jeito que chegou, alvoroçado, foi embora, serenado. Restou a Clarissa alinhar os cabelos, cuidar das plantas, ajeitar as gavetas, limpar o piso, verificar as cortinas. Pôr ordem na casa e rever suas regras. Tudo de volta no lugar como antes. Tudo limpo e bem organizado. Mas seu coração tinha virado numa bagunça...

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 29/01/2009
Código do texto: T1410886
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.