Meus Planos
Finalmente, o grande dia chegara. Eu mal podia conter a emoção em meu peito. Minhas mãos estavam cada vez mais geladas e trêmulas. Estava fazendo quase o impossível para esconder todo o meu nervosismo, em vão. Também, pudera, num dia como aquele, eu estava autorizada a sentir uma das maiores emoções da minha vida.
Cheguei um pouco mais cedo do que o esperado. A igreja estava maravilhosa. Havia lírios, rosas e gérberas enfeitando os bancos e as paredes. O perfume era intenso e marcante. A caminho do altar, lá estavam elas. Pétalas de rosas esparramadas pelo chão, exatamente como eu imaginava. Respirei fundo... Fechei meus olhos e senti uma lágrima rolar por meu rosto. Meu coração batia cada vez mais rápido, tentando preencher meu corpo de sangue e evitar que eu desmaiasse. Por um segundo, pensei se isso tudo realmente valeria a pena. Abri, então, meus olhos, bem devagar.
Ele também estava lá. Bem ao lado do altar, esperando, ansiosamente. O fraque lhe deu uma postura diferente, mais séria. Muito bem penteado, não havia absolutamente nenhum defeito em sua figura. Seus olhos brilhavam de felicidade e, apesar de tentar manter-se calmo, eu podia sentir que ele estava quase sucumbindo por dentro. Um comportamento típico dele, aliás. Lindo, mais do que nunca. Nossos olhos se cruzaram por um instante e senti que seus lábios se abriram num sorriso tímido, sendo retribuído da mesma forma.
Conhecemos-nos quando ainda éramos crianças. Sempre juntos, havia uma forte atração entre nós, um carinho que poderia ser notado à distância. Gostávamos das mesmas coisas, nos divertíamos muito. Começamos, então, a namorar. Foi o período mais feliz de toda a minha vida. Sonhava acordada, todos os dias. Quando ele me pediria em casamento? Como seria? Não importava, pois já tinha o roteiro de nossa lua-de-mel montado em minha mente. Europa, com certeza, nós dois adorávamos. Nossos filhos... Seria um casal. Eu queria uma menina primeiro, linda, assim como o pai. Com aqueles olhos verdes que me faziam perder a noção do tempo. Ah! Como eu era feliz.
Perdida em meus devaneios, mal notei que a cerimônia chegara ao fim. Olhei para o lado discretamente, e me senti confortável por saber que não era a única que não conseguira conter as lágrimas.
“Eu vos declaro marido e mulher.” Meu coração quase parou. Senti-me bastante tonta e tive que me sentar, novamente. “Tudo bem, moça? Está pálida. Talvez fosse melhor tomar um pouco de ar e...” “Estou bem, obrigada. É apenas a emoção do momento.”
Observei os dois caminhando até a porta da igreja. Pelo chão de rosas... Minhas rosas, meu amor! Levantei-me do banco e resolvi ir depressa para a fila de cumprimentos. Se eu chegara até ali, iria até o final.
Minha vez se aproximava. O que falar? Não havia mais nada a fazer. Meu coração já se aquietara e eu sabia que tinha feito a coisa certa. Ele foi sincero quando disse que nunca me amou. Eu tinha que ver com meus próprios olhos se ele era realmente capaz de amar. E, naquele dia, senti que era. Por incrível que pareça, fiquei feliz.
“Meus parabéns, Pedro. Espero que vocês sejam muito felizes.” Abracei-o bem forte, como se fosse a última vez que nos veríamos. Ele segurou minhas mãos, ainda geladas, e disse: “Eu... Muito obrigado, Cecília. Adeus.”
Cumprimentei a noiva e logo saí da igreja. Ele não parecia arrependido, nem demonstrou nada quando trocamos aquelas poucas palavras. Já era noite e um temporal se aproximava. “Onde estaria meu carro?”, pensei. Eu queria gritar, mas não tinha forças. Uma chuva fina começou a cair. Finalmente, encontrei o carro. Parei por um momento e resolvi dar meia volta. Uma caminhada na chuva, vez ou outra, não faz mal a ninguém. Afinal, precisava lavar minha alma, tentar esquecer o inesquecível... Olhei para o céu. Apesar das nuvens carregadas, uma estrela ainda brilhava. Sorri. Sempre restará uma esperança.