ADEUS ÀS ILUSÕES
Liz instalou-se no imaginário coletivo de homens e mulheres, cinéfilos ou não, a partir dos anos cinqüenta como uma pasta de imagens compartilhadas. Lindas imagens! Houve quem dissesse que tenha escalado a grande e viscosa montanha hollywoodiana fincando estacas com os olhos violeta, encravados em lousa de alabastro. A cor, o formato e a expressão, pois não basta somente ter olhos lindos, há que saber olhar. E Liz sabe, ainda sabe. Mas de certo que não foram somente seus atributos faciais que fizeram dela um ícone. Foi uma grande atriz consagrada por prêmios máximos da Academia. Um por “Disque Butterfield 8” (60) e outro por “Quem tem medo de Viginia Wolf” (66).
E há no largo de sua carreira outros tantos desempenhos que a fizeram no mínimo candidata ao Oscar. De minha parte, talvez induzido pela música, o que mais me marcou foi o drama Adeus às ilusões. Vi várias vezes até me dar conta que tanto faria ir ao Corbacho como ficar em casa olhando um álbum de figurinhas da Liz, com um compacto simples rodando na eletrola. Ok, a paisagem da Califórnia também é indescritível e merecia uma história de amor muito mais convincente. “Com Vincente” foi a direção. E talvez tenha sido também uma das piores do grande Vincente Minnelli.
O filme tinha todos os ingredientes para tornar-se um clássico: a fotografia e uma música espetaculares, e um elenco de primeira, além da musa, Richard Burton, duas vezes marido dela, que tinha como hobby, quando queria ser carinhoso com a Liz oferecer-lhe, não flores, mas jóias. Coisa pouca, como o diamante Krupp, de 33 quilates, ou a pérola La Pelegrina, a mesma que o Rei Felipe II, da Espanha deu a Maria Tudor, no século XV. Pequenas alegrias para ela, segundo ele.
O filme não decolou em função da chatice e penso também que pela fórmula gasta, pois a personagem Laura Reynolds (Liz) parece ser a mesma Gloria Wandrous (Liz) do Disque Butterfield 8. Talvez tenham tentado aproveitar a história que havia rendido um Oscar, de uma mulher linda e atormentada por suas convicções e paixões desencontradas em busca de amor. Encontra, claro... Mais paixões desencontradas, o que também fez ao longo da vida fora das telas.
A música The shadow of your smile (A sombra do seu sorriso), ou para nós como no filme, Adeus às ilusões é uma poesia musicada. Como dancei esta música! E como a ofereci em serenatas! Para quem não conhece digo que é daquelas que nos faz respirar cachorrinho, ter contrações de cinco em cinco segundos e dilatação de quatro dedos. Inesquecível.
Ando preocupado com a Liz. O tempo não tem pena. Como pode o Criador, tão orgulhoso de seus feitos, além de pouco modesto na divulgação permitir que se esvazie a beleza entre sulcos e frisos em um rosto que foi, ao longo de décadas, modelo da mais perfeita arquitetura mortal? Aposto que somente após terminar de desenhá-la o Altíssimo resolveu marquetear sobre o tema “imagem e semelhança”. E vejam quanto tempo Ele demorou a colocá-la entre nós!
Não sonho de graça. Dia desses acordei com sensação que o mundo estava prestes a despedir-se da diva das divas, que nasceu Elizabeth Rosamond Taylor. Sonhei que conversávamos, relembrando os bons tempos em que ainda brincava com a cadela Lassie e depois quando tinha como esporte favorito o casamento. "A felicidade se resume em colecionar amores..." repetiu. E talvez por isso ninguém tenha casado tanto quanto ela. Nem eu. Casou inclusive duas vezes com nojento do Burton, ou seja, reincidência específica, o que é um agravante sério.
Liz está prestes a completar 77 anos (22/02) e mais uma vez não estarei lá para abraça-la . Paciência. Já disse isso, mas não custa repetir: não vá ainda, Liz. E apareça vez por outra. Prometo que sempre a olharei com olhos juvenis.
Confiram!
http://br.youtube.com/watch?v=swATMIGcH2A&feature=related