Dia de chuva
Antigamente os professores gostavam de dar o tema “Dia de Chuva” nas aulas de redação. Os alunos detestavam. Aqueles de onze ou doze anos diziam apenas: “dia de chuva é muito chato. Não podemos brincar lá fora, nem bater os pés nas poças. Logo levamos bronca.”
Garotas de treze ou quatorze anos eram melancólicas. “Em dias de chuva fico sozinha em meu quarto. Pela vidraça olho a rua molhada e sinto uma tristeza enorme. Não paro de pensar naquele cara que nem sabe que eu existo...”
Outras, mais amadurecidas, contavam que aproveitavam a tarde chuvosa para ler romances. Ou então, para ouvir música de dor de cotovelo. Algumas diziam gostar daquela reclusão, era o momento de encontrarem-se consigo mesmas.
Hoje em dia mesmo alunos jovens, mas já conscientizados, diriam que a chuva é boa, faz bem para as plantas, lava a sujeira, despolui o ar, etc e tal. E os maiores falariam dos problemas acarretados pelas quedas d´água nas grandes cidades. Lembrariam os enormes congestionamentos, as inundações, os perigos de deslizamentos. Fariam apelo às autoridades para que construam mais piscinões, regulamentem as áreas de moradia, despoluam os rios.
Algumas pessoas sempre reclamam. Na falta de chuva, dizem que está tudo muito seco, o calor é insuportável. Rezam para que Deus mande uma chuvinha.
Se chove, reclamam também. Tempestades causam estragos, derrubam árvores, o trânsito fica insuportável.
Às vezes a chuva nos pega desprevenidos no meio da rua. E quando das bem fortes, não há o que fazer senão molhar-se.
De qualquer modo, o assunto é controverso. Precisamos das chuvas, mas gostaríamos que elas viessem sempre à noite e, de preferência, das mais maneiras. Durante o dia incomoda. Atrapalha, mesmo que sirva para refrescar.
Isso tudo sem falar no medo atávico que sentimos diante dos raios e trovões...