O que viemos fazer aqui?

Para mim já está bem resolvida a questão “de onde viemos”. Não que eu ache isto irrelevante para os avanços da ciência; mas no meu caso considero muito mais intrigante “o que viemos fazer aqui”.

Quando criança a gente até quer saber “como veio parar aqui”. E numa miscelânea de explicações que vai de sementinha à cegonha, acaba-se concluindo que caiu de pára-quedas num imenso parque. Afinal, até a adolescência a vida é uma grande diversão.

Com a chegada da adolescência chegam os grilos (na cabeça), as pulgas (atrás da orelha) e passamos a ser impossíveis a nós mesmos. Num surto de auto-afirmação desinformada, a gente acha que sabe “da onde veio”, “como veio”, e “para onde quer ir”, independente de que os pais não queiram.

Passada a adolescência a euforia se esmaece dando lugar à preocupação “para onde devo ir”. É quando, depois de ter concluído um curso superior, não se sabe se é melhor casar ou pós-graduar. Na dúvida acaba-se casando primeiro e se especializando depois. Sabe-se lá quando.

Vividas as devidas fases, cada qual em seu tempo e com suas preocupações, a gente chega à maturidade achando que, estando tudo certo ou não, está do jeito que deveria estar e pronto, certo? Errado! É aí que a enorme interrogação assalta os nossos sonhos, invade o nosso banho, interrompe o nosso almoço para inquirir “o que é que eu vim fazer aqui?”

Porque não pode ser só isso. A vida não pode ser apenas trabalhar, comer, beber e dormir. E aí a coisa complica. A gente começa a folhear os livros e sacar tanta gente bacana que, fez ou faz coisas bacanas, e passa a se sentir um zero à esquerda. Quem irá jurar que nunca se sentiu assim?

E digo que, esta é a fase áurea da insanidade dentre todas as que se tem que passar. A busca pelo “algo mais” da vida consome a mente de tal forma que, ou você descobre o que veio fazer aqui ou enlouquece. Penso que foi num momento como este que, muitos artistas, poetas e intelectuais interromperam sua própria vida ou nela se isolaram, prostrados por tentar desvendá-la.

Para a maioria, normais são aqueles que sabem de onde vieram e para onde vão sem muitos questionamentos. Segundo esta teoria, caso eu ainda não esteja, acabarei ficando louca. Uma vez que, algo dentro de mim teima em sacudir esta normalidade imposta e faz com que eu busque incessantemente descobrir o mistério por trás da minha existência.

Enquanto não o descubro, literalmente, vou escrevendo. Às vezes uma história verdadeira que não a minha, noutras um conto inventado que poderia ser o meu. E quem sabe, entre estas letras que me fascinam destas linhas que delineio, eu encontre no fim de tudo, a resposta que tanto busco: O que vim fazer aqui?

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 28/01/2009
Reeditado em 28/01/2009
Código do texto: T1408797