Porta-bandeira de mim

Sempre fui apreciadora de encontros onde pessoas com paixões afins se reúnem para trocar experiências e impressões, as famosas “figurinhas”.E foi durante este troca-troca que uma impressão comum entre nós se sobressaiu: “Expor pensamentos, sentimentos, conhecimentos através de páginas voadoras ( dos jornais, revistas, internet...) exige muita coragem”. É como expor o coração numa arena, com centenas de flechas voando para todos os lados.

Quintana já dissera: “Nunca escrevi uma vírgula, que não fosse uma confissão”. E seria um contra-senso afirmar o contrário. Se as idéias surgem da mente e a mente é um reservatório de sentimentos e emoções, “lógica mente” que escrevemos o que sentimos, vivenciamos, experimentamos. Meus escritos são metástases de mim.Até aí parece bem lírico, se não fossem os acordes cortantes do havy metal da vida.

Aventurar-se como escritor é permitir-se ser vastamente adjetivado. Para alguns, você é inteligente; para outros, presunçoso. De alguma forma você pode parecer pretensioso, ousado, arrogante, equivocado. Mas o mais engraçado de tudo isto (é desta forma que precisamos encarar), é que os leitores acabam achando que cada frase, cada parágrafo escrito, não é senão um trecho do nosso diário pessoal. Uma autobiografia que ele aprendeu a ler e a interpretar. Contos do nosso dia a dia que juram ser o documentário das nossas vidas.

Observando bem a dupla-face deste fato, percebo que se por um lado torna-se complicado discorrer sobre certos temas porque vão atribuí-lo como um “causo” meu. Por outro, se a curiosidade que assola as pessoas é um dos fatores que mais instiga o desejo de ler, então que busquem nas entrelinhas dos meus escritos, verdades e inverdades que me pertencem ou não, pouco importa. O que interessa é que continuem lendo-me.

Há algum tempo sentia um enorme medo de expor o que escrevia e ia acumulando cadernos e gavetas repletos de texto “impublicavéis”. Hoje percebo que isto era uma forma de não ser avaliada, criticada, rotulada. Aprendi que, não são as críticas que nos fazem desistir, e sim a nossa incapacidade de persistir apesar das críticas.

Durante estes anos de porta-bandeira de mim mesma, descobri que me agrada muito mais ser um aplicativo dos adjetivos do Aurélio, do que ser algo definivelmente conceituado. Concluo com a voz inconfundível de Ney Matogrosso ecoando em minha mente: “Louco é quem me diz, e não é feliz”.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 28/01/2009
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