ESPERANDO GAIVOTAS VOAREM SOBRE O MAR

Zurique, 13 de janeiro de 1941 – “Ao pé do túmulo, sob a neve, Nora, de preto, Giorogio, alguns amigos. Dois discursos, um em alemão, outro em inglês. Um ramo de flores. Dobrar de sinos. Pobres homenagens para tão grande talento”.

O pranteado aí de cima era o escritor irlandês James Joyce, de quem não li Ulisses, mas sim, Retrato do artista quando jovem, e que começa assim: Certa vez – e que linda vez que isso foi! – vinha uma vaquinha pela estrada abaixo, fazendo muu! E essa vaquinha, que vinha pela estrada abaixo, fazendo muu! Encontrou um amor de menino chamado Pequerrucho Fuça-Fuça...

Mas, com todo o respeito para recordar Joyce, autor de Música de Câmara (coletânea poética composta de 36 poemas); da peça Os Exilados; Dublinenses (contos); Ulisses ( que não é um romance, amálgama uma variedade de estilos); e Finnegan’s Wake (obra louca de um louco, segundo o próprio autor), hoje estou mais para subir no telhado e lá deitar, tendo em mente a mesma linha de pensamento do Snoopy – que comunga com a de Joyce – e que é a seguinte: Cansei de me preocupar com o mundo... Agora o mundo que se preocupe comigo. Isto porque, embora criticado, Joyce não estava nem aí para as escaramuças de sua época ( e a Irlanda pegava fogo); não endossava a violência e só se importava com o mundo interior, independente de situações políticas ou econômicas. Acreditava que a estupidez humana, a fragilidade da vida e das criaturas não mudam com a simples alteração de uma situação externa. Amor, ódio, pátria, para ele, não passavam de palavras. Acreditava também que “ ao homem só resta uma profunda e infinita solidão, na qual ele se encontra apenas consigo mesmo, com sua alma dolorida”.

Palavras de Joyce, que pensarei sobre elas, enquanto Billie Holiday, com o seu estilo sensual, que a fez famosa e que me encanta neste momento com Good Morning Heartche, canção que a escritora Françoise Sagan utilizou como título do seu primeiro romance: Bonjour Tristesse. E quando ela calar será a vez de Alain Patrick soprar o seu trompete: Concerto para um Verão e com ele fecharei os olhos e tentarei enxergar gaivotas voando sobre o mar.

Sim, esperarei as gaivotas...

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 28/01/2009
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