Nossas escolhas (não) são próprias.
Quando saiu pela porta do prédio tinha somente uma hora para almoçar. Estava indo pelo mesmo caminho ao mesmo restaurante. Calçadas, comidas, pessoas de sempre. Tudo e todos que pertenciam ao mundo em que ela vivia quando ele fazia parte de sua vida. Todas aquelas pedras no chão, sinais verdes e vermelhos, direitas e esquerdas conheciam seu sorriso mais alegre, seus pensamentos mais românticos e sempre sabiam quando sua cabeça estava na lua. Mas hoje não. Hoje deveria ser diferente. Depois de um mês ela sabia que não havia mais volta e a única coisa que poderia fazer era tentar mudar sua vida. Até logo, amigo livreiro. Até logo, ao tio das balas. Decidiu então, não ir pela direita. Hoje a esquerda conheceria uma nova passante, seu paladar aprovaria outra comida e esbarraria em outras pessoas ao esperar o sinal fechar. Existia, sim, um mundo que ela não conhecia. Um sorriso novo e diferente apareceu no seu rosto. Coisas novas. Era disso que precisava. Não sentiu a hora passar e teve que voltar apressada para o trabalho. Tudo era tão novo e era como se não houvesse necessidade de explicar o motivo de seu silêncio. Ela era apenas mais uma passando por outras pessoas. Quando voltou ao trabalho a foto dele ainda estava em sua mesa. Pegou e ficou olhando. Parada. E foi nesse momento que percebeu que de nada adiantava um caminho novo. Voltas e voltas em torno do nada. Tudo sempre acabaria no mesmo destino. Ele.