POR SER PANTANEIRO...
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Tenho grande afinidade com a natureza; talvez por ser de uma família de camponeses. Para mim, a natureza é expressiva...
Pelos campos vaguear
sentir o vento, respirando a vida
E livre suspirar
[...] (Álvares de Azevedo)
Por ser pantaneiro, meus sentidos se abrem para a mata, para o riacho e para sentir na mais íntima fibra do meu eu, um dos mais belos poemas descritivos de nossa língua:
A tarde morria! Nas águas barrentas
As sombras das margens deitavam-se longas;
Na esguia vigia das árvores secas
Ouvia-se um triste chorar de arapongas.
A tarde morria! Dos ramos, das lascas,
Das pedras, do líquen, das ervas, dos cardos,
As trevas rasteiras com o ventre por terra
Saíam, quais negros, cruéis leopardos.
A tarde morria! Mais funda nas águas
Lavava-se a gralha do escuro ingazeiro,
Ao fresco arrepio dos ventos cortantes
Em músico estalo rangia o coqueiro.
Somente por vezes, dos jungles da borda
Dos golfos enormes daquela paragem,
Erguia a cabeça surpreso, inquieto,
Coberto de limos – um touro selvagem.
(Crepúsculo Sertanejo - fragmento- Castro Alves)
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Imagem: Óleo sobre tela de José Ferraz de Almeida.
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