Os Umbrais da Escola
Informa a Diretora:- Há pouco recebemos o pai de uma aluna de costumes evoluídos, solicitando que eu lhe concedesse um atestado de "piranha", de posse disso, a entregaria ao Juizado de Menores, o que contribuiria para diminuir as despezas caseiras. Postos em acareação, o pai foi taxado de ladrão pela filha; a mãe, de alcoviteira pelo pai, e a filha de namorar homem casado pelos dois. Por fim, os três se acusavam e ao mesmo tempo se agrediam, transformando o que se imaginava simples em hediondo caso policial.
Enquanto isso, uma menina ao interromper-me dizia:- " Minha mãe me mandou aqui, porque meu irmão foi suspenso das aulas de Estudos Sociais; ele não teve culpa; Um garoto quis "comer" a bunda dele na sala e foi revidado com uma cadeirada na testa. Diante do português de frases "rebuscadas", não tive outra alternativa, senão, a de pedir ao professor que reconsiderasse a punição.
Em otra ocasião, convidada a tomar conhecimento do procedimento da filha, exclamou a mãe:- " Pois é professor. Ainda há quem arreganhe as pernas, para os homens enfiarem estas coisas; fazerem estes "estopores" que viram piranhas; só servem para dar trabalho e fazer os outro passar vergonha.
Há ainda o caso de uma mãe, que ao ser informada do romance de sua filha com o pai de outra aluna, assim reagiu:- " Minha filha dá o que é dela a quem quer... namora o homem que quer...neste particuar ninguém tem o direito de se-meter na nossa vida". - Segundo comentários, aqui na vila as meninas perdem a virgindade aos doze, ou antes. . Se não cedem são violentadas; seu comportamento vira de gente adulta; só a Lei não reconhece nelas o ar de emancipação.
Míriam entra na sala e se queixa:- "O Robson mando eu me foder!." Pensei: O que eu posso fazer, minha filha? Vá com Deus!...
Maria mijona adentrou pedindo para registrar uma ocorrência! Desabafou:- " O Carlos Alberto me deu um soco no seio e um chute na vagina". Eu, como tivesse entendido vacina, retruquei: :- que vacina é essa que você tomou?" Ela então continuou:- "Não é vacina não, é vagina!" Disse apontando insistentemente, para o lugar afetado.
Há casos crônicos, como o de uma garota (doze) rejeitada por outra diretora por não comparecer às aulas. Quem sabe uma mudança de ambiente lhe faria sentir-se melhor, com relação às atitudes - foi o que pensamos. Ficou tudo certo entre as partes. Ao despedir-se a mãe, declarou a filha:- Não irei para a sala de aulas nem que me matem! Não quero nem professor, nem professora, nem diretora, nem o diabo que os parta... o que eu quero mesmo é ficar só, isolada do mundo... o que eu quero mesmo é morrer!... Já estou cansada de ver minha mãe acariciar suas amigas, na minha frente, sem nenhum escrúpulo. Meu pai desapareceu, quando eu ainda tinha sete anos; dele só resta um fio de imagem e rudes lembranças. Agora entendo o problema dele. Teve sua saída, mas me deixou envolvida neste drama macabro. Vivi um tempo com minha avó materna, que pouco ligava para mim.
Agora sou cuidada por uma estranha que me maltrata com pancadas e xingamentos."
Induzida pela Diretora a uma melhor opção! Deixar de lado todo esse desconforto; elevar o pensamento para o que de bom existe na vida: As flores! Os campos! a Natureza, com toda sua beleza e grandiosidade! O namoro, o amor, o casamento... protestou:- " Já tive um namorado, que fugiu de mim, porque andavam falando que eu estava grávida!..."
Sem dúvida este é para nós um caso de difícil solução. Pouco podemos fazer em seu benefício. É um caso dos "quem pariu mateus".