A corrida pela vida
No auge dos dezoito anos, casa nova, amigos, família linda, faculdade à vista, quem sabe até um amor novo, um mal estar e um diagnóstico supreendente...LEUCEMIA.
Pegou a todos de surpresa, inclusive a mim. Essa “criança”, é irmão da minha sobrinha (namorada do meu sobrinho), por coincidência, ele escolheu passar seu aniversário de maioridade na praia comigo e com meus filhos, uma honra, afinal eu me lembrei o quanto eu esperei por essa data, o quanto eu contei os dias pra que se completassem dezoito anos na minha vida. Era a tal liberdade tão esperada, ir à baladas, motéis, poder votar...votar e voltar a hora que quisesse, ter a superioridade perante aos cortes tão comuns aos adolescentes, iniciar então a vida adulta.
Enfim não estou aqui pra falar de mim, mas daquela criança, que a vida ta ensinando muito mais que ensinou a mim, com uma corrida contra o tempo. Agora é a hora, de correr, correr pro hospital, encontrar vaga, vaguear pela humilhação de hospital em hospital, clamando a vida. A corrida chegou à sua primeira volta, a graça de Deus se instalou e lá está a criança, medicada e bem cuidada. Antes da segunda volta, a família inteira chora, mas se une em prol do melhor, a mãe abdica de todos e parte rumo ao hospital, para com sua criança estar em cada respirar, como se voltasse ao útero, é dela que ele necessita Quem tem mãe, tem tudo.
Na segunda volta, os motores já estão aquecidos e a velocidade aumenta, a corrida agora é por doadores compatíveis, a irmã, os pais, os tios, os primos...um aguarde, de um sistema moroso e lento, contra a vida que quer viver, quer saltar, quer gozar dos seus dezoito. No meio ainda da segunda volta, com o sangue correndo nas veias, um pit-stop...é hora de abastecer, e sangue é o combustível. Amigos e família mais uma vez unem-se e divulgam a necessidade da doação, e lá vão como torcida organizada, doar...doarem-se.
Começa 2009, e após dias incontáveis, o menino enfim despede-se do seu hotel 01 estrela, onde passou o Natal dos seus dezoito e o Ano Novo...esse ano que traz consigo toda a esperança não só dos dezenove, mas de toda uma vida. Novamente de volta a seu lar, seu ninho, a vida vai voltando ao que julgamos normalidade, e ao que ele denomina FELICIDADE. Mas felicidade se constitui de momentos apenas, e menos de um mês depois...
A terceira volta começa hoje, de volta ao hospital...a decepção do menino é claramente mostrada em sua frase de ontem:”Amanhã volto pro hospital, droga!”, e pela frase de hoje:”De volta ao hospital brigadeiro”, mas a esperança...essa nunca o deixará, porque ele sabe que só depende dele,e que todo esse “aprendizado”, vai formá-lo e pós graduá-lo na vida, mas principalmente vai encher os filhos dele de orgulho, e na segunda frase de hoje ele demonstra o tamanho da sua determinação:”Eu sou foda, vou vencer a leucemia”.
Acho que não preciso dizer mais nada não é?
Que Deus te abençõe mais e mais Renatinho... pole position na corrida da vida.
**********************************************************************
Essas linhas acima eu dedico a cada um de nós que com saúde, seguros em seus lares ou andando pelas ruas, nos esquecemos de agradecer, ao sol que nasceu entre as nuvens, a brisa leve que nos tocou a face, a lua que cobre nossas noites nubladas, a cada ir e vir do ar que respiramos. Mais que isso...reclamamos da vida que temos, com tão pouco que passamos. Hoje me sinto pequena diante da grandeza do Renatinho e dos outros 1000 pacientes que se encontram na fila do transplante de medula, que convivem dia a dia com a incerteza de vida, mas que têm muito mais que nós, esperança no amanhã.
Refletir sobre certas coisas nos faz seres humanos melhores...
By Cris por mim mesma