Nosso Telefone
Um dia destes peguei o telefone e disquei pro meu irmão Carlos lá nas Minas Gerais. Toquei uma, duas, três, várias vezes e nada de conseguir a ligação. Depois desta situação fiquei pensando no porque da ligação estar tão difícil e foi justamente neste instante que outra ligação se fez numa rapidez assustadora. Foi uma ligação que me transportou lá pro meu passado, ou seja, bem mais longe que as Minas Gerais e com uma rapidez de impressionar.
Lembrei do meu tempo de garoto, tempo bom, tempo gostoso. Lembrei de meus pais Ivan e “Cidoca” usando o telefone lá de casa. Eles tinham que girar uma manivela do telefone de parede para que desse início a uma complexa operação.
Era um telefone grande, confeccionado em madeira de lei. O fone era enorme, feito de um pesado material preto, e ficava pendurado em um gancho do lado esquerdo do aparelho. Do lado direito ficava uma manivela. No centro, preso a uma longa haste de metal ficava o bocal, feito do mesmo material do fone, em forma de cone e que tinha que aproximar bem a boca para falar.
Uma coisa que muito me intrigava era quando apagava a luz. Na época essa situação era muito corriqueira na cidade que eu morava, a pequena e “querida Santa Branca”. Eu não entendia como tudo em casa parava de funcionar com a falta de energia e só o telefone continuava. Isso se dava porque todo esse conjunto era ligado a um par de fios que se conectavam a duas enormes pilhas pesadas, que alimentava aquilo tudo. Quanto ao número, olhem só, dá até para soletrar de forma compassada: 1-2-3.
Para fazer uma ligação meu pai girava a manivela de maneira sem fim até a obtenção do alô da telefonista, que era uma pessoa conhecida de todos na cidade.
Girava a manivela e espera, espera, espera e então:
por favor, Chiquita uma ligação para Guaratinguetá, ao que ela respondia:
um minuto, por favor.
Eu não sei por que ela já não pedia vários minutos de uma só vez. Era certo que iria precisar de mais tempo. E ali ia..., até que: “Sr Ivan, a espera é de três horas para completar (nos dias chuvosos) ou de uns quarenta minutos (em tempos bons). Meu pai desligava e ficava a esperar. Por sinal quem quisesse falar era mesmo obrigado a esperar. Esperar para o meu pai sempre foi algo terrível, e assim ficava o tempo todo cobrando a coitada da Chiquita. Eu ficava imaginando a paciência daquela mulher.
Quando Chiquita completava a ligação, chamava em casa.
Juntando a tudo aquilo que para mim já era muito confuso, o meu pai ainda me dizia que a telefonista ligava para outra, e essa outra para outra, e assim por diante até completar todo o circuito de ligação. Eu imaginava longos fios e aquelas telefonistas todas em suas salas cheias de fios. Pensava como é que a voz passava pelos fios e não ficavam misturadas. Eram perguntas mil sem respostas. Voltando de minha ligação mental fico pensando, que tempo bom e simples e ao mesmo tempo tão complexo para uma cabeça de criança cheia de imaginação.
Era demorada a tal da ligação, mas também prá que pressa né?! Não havia muita coisa prá se fazer, mesmo com pressa, tinha que esperar mesmo. Posso até concluir dizendo: era demorado, mas acabava funcionando. Que tempo bom, tempão igual ao da ligação.