A "cara" metade

Este assunto veio a mim no dia em que parei, por acaso, diante de uma gôndola de revistas e meus olhos pousaram sobre a capa de uma destas revistas de fuxicos, mais precisamente sobre a foto principal, em que Fábio Júnior brindava o seu sexto casamento, sob a manchete: “A sexta metade da laranja”.

Não deveria esperar nenhum conteúdo melhor vindo de uma revista como aquela; ao mesmo tempo, não poderia condenar a atitude do galã de meia idade que tem como hobby e marketing pessoal, colecionar beldades e catalogá-las com alianças abençoadas pela ultrapassada promessa: “até que a morte os separe”.Com certeza Fábio (para muitas, ainda um gato) não possui sete vidas ou morreu e ressuscitou seis vezes. Pelo contrário continua vivíssimo e mantendo a fama de garanhão gostosão (apesar da cabeleira rala e dos vestígios da ação do bisturi). Simplesmente, a condição de celebridade lhe confere o direito de saborear cada laranja até que o suco acabe, e ele tenha sede de uma metade mais suculenta.

Deixando Fabinho de lado, preciso externar que, esta teoria de alma gêmea sempre foi um paradoxo para mim.Primeiro que, quem procura a cara metade é porque se encontra incompleto. Portanto, buscar no outro o que falta em mim é como utilizar um remendo para preencher um rasgo. As partes nunca se fundirão. A cor destoa, a costura é visível, o resultado é grotesco.Segundo, porque a palavra “gêmea” caracteriza pessoas com características físicas muito (às vezes nem tanto) similares, entretanto com personalidades distintas. Concluindo: não existem almas iguais.

Enfim, num universo de bilhões de seres, em que cada um é único, incopiável e em constante evolução (sabe-se lá quando estaremos completos), buscar a outra metade da laranja é correr o risco de passar a eternidade vagando por pomares.Alma gêmea talvez seja então, aquela que num certo período (que pode ser muito curto ou muito longo) nos acompanhará e contribuirá para o nosso desenvolvimento. Nunca, no entanto, será o elemento que falta para sermos completos.

É de Aristóteles a frase que por muito tempo tomei como lembrete de porta de geladeira: “A felicidade pertence aos que se bastam a si próprios”. Num primeiro momento pode até parecer um pensamento egoísta de um filósofo recalcado. Mas ao lermos as palavras com a profundidade da alma deste sábio, compreenderemos que, ele não está insinuando que devemos viver isolados em uma ilha deserta, e sim que precisamos nos conhecer e nos amar, ao ponto em que não necessitemos de uma segunda ou terceira pessoa para sermos felizes.

Pessoas que buscam a felicidade fora de si mesmas, dificilmente serão ou farão alguém feliz. Pelo contrário, nenhum de nós tem o direito de colocar sobre o outro a responsabilidade da própria felicidade, uma vez que ela encontra-se dentro da nossa alma e que (feliz ou infelizmente) precisamos admitir que, não existe uma irmãzinha gêmea dela vagando por aí.

Se diferentemente do que canta Fábio Júnior, em vez de procurar pela outra metade da laranja, procurássemos por uma fruta que, juntando-se a nós resultasse numa colorida e saborosa combinação, com certeza ficaríamos tão felizes e satisfeitos que, sentiríamos vontade de gritar aos quatro ventos: Brigaduuuuu!!!!!

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 26/01/2009
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