Aos Filhos de Obama
Terça-Feira, 20 de Janeiro de 2009. Cheguei do trabalho depois de um dia comum e liguei a televisão em um canal de notícias qualquer. Nesse momento percebi que aquele dia poderia ser qualquer coisa, menos um dia comum.
Estava discursando o 44º presidente norte americano. Eu, assim como grande parte do mundo, parei frente à TV para ouvir as palavras do Sr. Barack Obama. No título da matéria lia-se exaustivamente a frase: “Discurso do primeiro presidente negro dos EUA”. Fiquei me questionando o porquê dessa verdade ser tão explorada pela mídia e até entendi que em um país tão cristão e proporcionalmente racista como os EUA, esse fato merecesse certa atenção, mas aquela frase já estava me cansando.
Era um discurso minuciosamente bem escrito e muito bem lido por um homem que tem um domínio oratório excepcional, e percebi que ele (o discurso) caiu como uma luva e soou como música para os ouvidos dos nossos mais de 2 milhões de orgulhosos irmãos norte americanos que estavam lá, em um frio cortante de -10ºC. Mas aquele era o momento de suas vidas, estavam todos unidos, ouvindo o homem que, para muitos, é o “salvador” da humanidade. Os EUA são mesmo uma nação excepcional, criam ídolos a todo o momento, onde até o presidente é pop star.
Minha mente me remeteu a uma conversa que tive com um amigo, estudante de administração, brasileiro e negro, onde ele se orgulhava pela vitória do Sr. Obama nas urnas, como se esse fato fosse, na verdade, uma realização pessoal.
- “Eu me sinto no poder” – ele disse.
- “Mas por quê?” – Instiguei. Queria saber o motivo de tanto orgulho do meu irmão tupiniquim por aquilo que estava acontecendo lá nas terras do Tio Sam.
Ele enfatizava constantemente o fato de Obama ser negro, e eu, já quase brigando, perguntava o que isso tinha a ver, já que antes do Sr. Obama existiu M. Luther king e o N. Mandela, esses que pra mim, são ícones de resistência em um período de segregação. Mas o Sr. Obama? Por Quê?. Definitivamente não entendia.
Os EUA elegeram um presidente não por causa de sua cor, pois boa parte dos americanos continua, a meu ver, tão racista como na era da Klu Klux Klan. Eles na verdade elegeram um presidente que deu sinal que poderia mudar o rumo do povo americano, que está tão enfraquecido por uma crise externa e principalmente aquela que acontece dentro de casa, um presidente que deu esperança de tempos prósperos e com dinheiro pra gastar, onde a economia – palavra tão cultuada por eles – estaria aquecida novamente. Com promessas como essa, não importa a cor do presidente, mas sim, o cumprimento das mesmas. Por isso o não entendimento da ostentação midiática do “1º presidente negro”.
Voltei minha atenção para o discurso do Sr. Obama, justamente em um momento que disse a seguinte frase: “Não pediremos desculpas por nosso modo de vida (...)”. Essa frase me chocou. Fiquei estarrecido por tamanha arrogância exposta nesse pequeno trecho. Interpretei como algo mais ou menos assim: "Erramos, sabemos disso, mas não nos desculparemos”. Afinal não é esse mesmo ‘american way of life’, tão imperialista que dita as regras do que pode e do que não pode ser feito pelo resto do mundo? Não é em nome desse modo de vida que eles invadiram o Afeganistão atrás do Osama e posteriormente o Iraque atrás de petr...ops “armas de destruição em massa”, mesmo contra a vontade da ONU, o órgão – que deveria ser - mais democrático do ocidente?
Ora então por favor não me venham com conversas de orgulho negro representado por um único homem, pois antes dele outros homens de bem lutaram e não se tornaram “pops”. Não esperem milagres na era Obama em favor da América Latina, Ásia ou até mesmo na África, só porque o pai de Obama é queniano, pois esses tais milagres só irão acontecer se for bom para eles (os norte americanos) e eles são ditadores de um sistema de capital excludente e acima de tudo, não estão dispostos a abrir mão do seu ‘way of life’ em favor do coletivo.
Ah! E desejo sorte ao Obama, ele vai precisar.
Ps: Outros Textos: www.marencada.blogspot.com