É um dia normal
As coisas simples acabam se tornando de repente especiais. O cotidiano pode se tornar mágico.
Deixar o carro naquele estacionamento de sempre, com aquele homem de sempre, naquela cadeira obviamente desconfortável que parece ter sempre existido. Atravessar a rua rindo e subir uma inclinação imensa e estranha, entrando num tubo de vento, que, serelepe, vai desembocar na praça onde os homens esperam que ele faça subir a saia das incautas mulheres.
Pedir um sorvete. Não se aborrecer porque não havia calda de chocolate. Achar que calda de caramelo é a melhor coisa do mundo. Ouvir um inacreditável Billie Jean tocando ao fundo e se deparar com o insólito de um imitador ao sol, dançando feliz como se só soubesse fazer isso na vida.
Discutir sobre como se mata um touro e como seria fácil perder oitenta euros. Observar as pessoas. Pessoas. Pessoas em todas as direções. Cruzando-se, quase se esbarrando, mas praticamente não se vendo.
Procurar música boa em mídias de qualidade discutível. Matar a sede. Trabalhar um pouco. Andar a esmo por aí. Enganar a fome em um lugar lotado de pessoas ingerindo lembranças.
Dançar no meio da rua. Amar o mundo e ser amado por ele.
O cotidiano pode ser mágico...
...é só olhar as coisas com olhos de poeta.