Sobre mulheres e flores
Uma mulher que recebe flores envaidece-se, enche-se de luz. É como se as flores aflorassem tudo de bom que ela tem dentro de si, e colocassem, em seus olhos, toda a primavera que existe nas outras estações.
Uma mulher que recebe flores esquece que existem guerras, que existe morte, que existe dor. O mundo passa a ser só ela, e ela aparece refletida em toda aquela beleza – e esta acaba se refletindo nela. As outras pessoas passam, olham; algumas felizes, outras talvez um pouco mortificadas por não serem aquelas que são alvo de tamanha devoção, de tamanho cuidado, de tão grande carinho.
Uma mulher que recebe flores passa a ser a mocinha de uma história de amor. Sente-se princesa, sente-se deusa. Sente-se à espera do cavaleiro andante, que virá, forte e bravo, resgatá-la de sua condição incompleta para torná-la mais forte. Porque ela descobre nesse momento, então, que não tinha tanta fortaleza como achava, que existem mais coisas que podem torná-la efetivamente feliz.
Uma mulher que recebe flores desperta admiração. O que ela tem de tão especial? Se esse toque diferente já é facilmente percebível, a atitude funciona como validação; se ainda não é, acaba tornando-se revelação.
Uma mulher que recebe flores ama. Ela ama a si mesma. E porque se ama, consegue amar o próximo, as coisas a seu redor, a existência em toda sua completude.
Uma mulher que recebe flores é altruísta, desapegada. Não se importa com dinheiro, não quer saber o valor do presente. Passa a dar mais importância à atitude singela, que lhe trouxe mais felicidade que qualquer bem caro que porventura pudesse ter recebido.
Uma mulher que recebe flores, naquele exato momento, está acima do bem e do mal. É um ser iluminado. Porque só manda flores quem ama. Só recebe flores quem é amado. E todas deveriam ser um dia. Toda mulher deveria saber, um dia, como é doce o sabor disso.
Em 15 de outubro de 2008.
P.S.: o dia em que recebi rosas vermelhas.