Vida à Lavoisier
Rosa Pena
Mais uma semana santa, mais um capítulo da novela Belíssima de nossas vidas. O almoço da sexta-feira santa, onde não se pode comer carne de modo algum, mas de noitinha podemos comer pizza calabresa (lingüiça não é muito carne vermelha, só um pouquinho), um karaokê disputadíssimo onde conseguimos que o Cazuza renasça para mandar meu sobrinho calar a boca, um DVD pra crianças, que concluem que os três porquinhos precisavam mesmo era da ajuda do Power Ranger. Uma madrugada com um friozinho gostoso pensando no sábado (aleluia, depois ainda teremos o domingo), onde juramos que depois dos feriados comeremos rúcula uma semana. Um sábado cheio de sol (aleluia aleluia), uma picanha na brasa, caras de ressaca e alguns coelhos de chocolate que esperavam sua vez de brilhar no domingo, depauperados, pois deram o rabo na calada da noite da paixão. Provavelmente domingos estarão surdos, orelhas devoradas nos embalos de sábado a noite. Batatinhas e corações rolam, caipirinhas e discussão também. Nuances da L’Oréal de Paris escondem o tempo das mulheres, um futebol - pelada desafia o vigor masculino. A sesta imprescindível depois do almoço desmente a tinta e o jogo. Uma noite enluarada com todos de bochechas rosadas, um jogo de Imagem & Ação, uma vontade descomunal de dar Lexotan para as crianças que já tombam pelos cantos, mas se negam a dormir e pedem a repetição da brincadeira de esconde-esconde. -Vão se esconder na cama lindinhos, todos pensam em dizer, mas sorriem com uma impaciência indulgente.
Uma noite em claro, desta vez com vontade que o feriado não acabe, Caetano Veloso é assassinado no meu tom errado no violão e um soninho gostoso já na alvorada com gosto de quero mais e na espreita da feijoada de daqui a pouco. Finalmente o domingo santo engrena, mais uma troca de ovos, onde quem deu um Nestlé 14 e recebeu um Kopenhagem 16 fica com cara de muxoxo. Barrigas de coelhos (só o que restou do roedor feito de cacau, são devoradas antes do almoço festivo), debaixo dos gritos da mana mais velha, que afirma que a páscoa não é mais a mesma. Sim, ela mudou. Não tenho mais espinhas na face, nem mamãe e papai, mas a novela não acabou, contínua Belíssima no rosto de meus pequenos príncipes- herdeiros, no feijão salgado, na canjica quase igual a do meu passado. Um brinde ao Pai celestial e a certeza que um dia, em algum lugar do futuro (quem sabe na Lua de São Jorge) Marina estará fazendo um bacalhau transgênico, Felipe ajudando minha Carol a tomar sol, todos lembrando de nossos sorrisos como agora me lembro do deles. Nada passou em vão.
Consigo na despedida, gritar bem alto, sem tom de ironia, mas sim de celebração:
-Aleluia irmão!
"Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma."
Lei de Lavoisier
foto: Carol e Rosa Pena na arte de Dorinha
Rosa Pena
Mais uma semana santa, mais um capítulo da novela Belíssima de nossas vidas. O almoço da sexta-feira santa, onde não se pode comer carne de modo algum, mas de noitinha podemos comer pizza calabresa (lingüiça não é muito carne vermelha, só um pouquinho), um karaokê disputadíssimo onde conseguimos que o Cazuza renasça para mandar meu sobrinho calar a boca, um DVD pra crianças, que concluem que os três porquinhos precisavam mesmo era da ajuda do Power Ranger. Uma madrugada com um friozinho gostoso pensando no sábado (aleluia, depois ainda teremos o domingo), onde juramos que depois dos feriados comeremos rúcula uma semana. Um sábado cheio de sol (aleluia aleluia), uma picanha na brasa, caras de ressaca e alguns coelhos de chocolate que esperavam sua vez de brilhar no domingo, depauperados, pois deram o rabo na calada da noite da paixão. Provavelmente domingos estarão surdos, orelhas devoradas nos embalos de sábado a noite. Batatinhas e corações rolam, caipirinhas e discussão também. Nuances da L’Oréal de Paris escondem o tempo das mulheres, um futebol - pelada desafia o vigor masculino. A sesta imprescindível depois do almoço desmente a tinta e o jogo. Uma noite enluarada com todos de bochechas rosadas, um jogo de Imagem & Ação, uma vontade descomunal de dar Lexotan para as crianças que já tombam pelos cantos, mas se negam a dormir e pedem a repetição da brincadeira de esconde-esconde. -Vão se esconder na cama lindinhos, todos pensam em dizer, mas sorriem com uma impaciência indulgente.
Uma noite em claro, desta vez com vontade que o feriado não acabe, Caetano Veloso é assassinado no meu tom errado no violão e um soninho gostoso já na alvorada com gosto de quero mais e na espreita da feijoada de daqui a pouco. Finalmente o domingo santo engrena, mais uma troca de ovos, onde quem deu um Nestlé 14 e recebeu um Kopenhagem 16 fica com cara de muxoxo. Barrigas de coelhos (só o que restou do roedor feito de cacau, são devoradas antes do almoço festivo), debaixo dos gritos da mana mais velha, que afirma que a páscoa não é mais a mesma. Sim, ela mudou. Não tenho mais espinhas na face, nem mamãe e papai, mas a novela não acabou, contínua Belíssima no rosto de meus pequenos príncipes- herdeiros, no feijão salgado, na canjica quase igual a do meu passado. Um brinde ao Pai celestial e a certeza que um dia, em algum lugar do futuro (quem sabe na Lua de São Jorge) Marina estará fazendo um bacalhau transgênico, Felipe ajudando minha Carol a tomar sol, todos lembrando de nossos sorrisos como agora me lembro do deles. Nada passou em vão.
Consigo na despedida, gritar bem alto, sem tom de ironia, mas sim de celebração:
-Aleluia irmão!
"Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma."
Lei de Lavoisier
foto: Carol e Rosa Pena na arte de Dorinha