Ler por prazer
Escrever e ler poesias eram alguns dos passatempos preferidos da minha geração. Líamos muito e, conseqüentemente, escrevíamos muito. Assim, quase brincando, conhecemos os poetas e escritores brasileiros e estrangeiros. O gosto pela literatura era tão prazeroso quanto ir ao cinema das quatro.
Analisando a atual falta de gosto pela leitura por parte dos brasileiros, penso que alguma coisa deva ter saído errada. Não sei em que ponto ou por culpa de quem, mas ao que parece impuseram leituras erradas, na hora errada, para as pessoas erradas. Uma vez que, o primeiro passo rumo à leitura é gostar de ler.
Mesmo, gostando e lendo muito, lembro-me de ter sido obrigada a ler alguns livros na escola que detestei. Hoje percebo que não estava preparada para aquele tipo de literatura, tanto quanto aquela literatura não se ajustava ao meu momento. Dom Casmurro, do maravilhoso Machado de Assis e A Paixão Segundo G.H, da admirável Clarice Lispector, analisados pela minha ótica de adolescente coagida a preencher uma ficha de pós- leitura, eram verdadeiros pesadelos. Imagino para quem já não morria de amores pela coisa.
Durante a FLIP - Festa Literária de Paraty - o escritor britânico Neil Gaiman, autor da série 'Sandman' e dos romances 'Deuses americanos' e 'Filhos de Anansi', todos, histórias em quadrinhos, foi o prato principal. O cara não só ressuscitou esta arte literária, como arrebanhou um exército de fãs que, defendem os quadrinhos como um trampolim para o gosto literário.
Concordo em gênero e número. É preciso que se conheçam os escritores consagrados, mas defendo que se deva iniciar pela Turma da Mônica e, só depois ir subindo os degraus, gradativamente. A leitura é algo fascinante. Uma viagem por um custo muito baixo, mas quem nunca aprendeu a viajar nunca vai pegar gosto pela coisa. O gosto deve ser provado nas escolas e estender-se às casas e vice e versa. Ou seja, cabe aos professores e à família o papel de agenciadores desta deliciosa viagem.
Aos pequeninos, cabe-nos contar histórias. Desde as fábulas indeléveis até os contos modernos. Aos adolescentes, oferecer livros leves de letras grandes, quase infantis. Afinal, eles não são tão adultos quanto dizem ser. Aos jovens, pode-se até aumentar o número de páginas e diminuir a letra, desde que o conteúdo seja tão atual quanto eles. Depois disso, tudo que vier será bem vindo. Se isto significa fugir do conteúdo pré-estabelecido, que se quebre a regra.
Quem lê fala bem, escreve bem, pensa melhor. Não foi à toa que livros e mais livros foram proibidos e até queimados em praça pública. Quem não lê, não questiona, não contesta, não incomoda. Quem não lê não faz a diferença.
Se você chegou até aqui ao final deste manifesto de resgate à leitura, parabéns! Você é um privilegiado, você não é um “igual”, você é um leitor.