Fora do Mundo
Eram 3:17 da manhã e os números vermelhos do relógio pareciam monstruosas inscrições iluminadas ao lado de sua cama. Podia sentir o calor daqueles pequenos feixes de luz lhe cutucando a cara - segundo após segundo. O travesseiro sufocava, o lençol esmagava, a cama o expulsava como se não admitisse ser traída, por aquela insônia cada vez mais constante. Levantou-se.
Pôs-se a andar pelo quarto como se estivesse com pressa de chegar a algum lugar, a alguma conclusão, mas nada mais fazia qualquer sentido. Queria dormir, mas não queria dormir; queria comer, mas estava sem fome; queria e não queria tudo no mundo. Não havia nada mais o que fazer, exceto tentar seguir os impulsos que sobrevivessem àquela autofagia. Vestiu-se e simplesmente saiu pra rua, sem destino certo.
Enquanto caminhava ouvia o ruído da cidade. O Silêncio. Não havia carros, risos, gritos ou qualquer sinal de vida. A cidade era morta. “Morta às 3:40 da manhã, de uma sexta-feira!” – pensava inconformado. Os semáforos, com os seus clicks ao fundo eram o único indício vida “inteligente”. Fora isso, lhe restava o sussurro das árvores e o som dos seus próprios passos.
Já havia caminhado por tês quarteirões e nenhum sinal de pessoa ou alma penada. Sequer um gato sarnento ou um cão perdido, sequer o maldito demônio se mostrava. Não havia qualquer pessoa por ali e, pelo visto, nem a muitos metros ao seu redor. Estava insone e solitário no centro da cidade. “Se me aparecesse o diabo eu agradeceria, ao menos alguma ação haveria” - resmungava.
Sentou-se num banco da calçada e acendeu o seu cigarro. Havia começado a fumar na tentativa de ter alguma doença e animar a vida, mas ainda não havia sinal de qualquer câncer ou mesmo uma bronquite. Sentir seu raciocínio minguando talvez seja um bom sintoma de uma grande catástrofe interna a estourar. Era mesmo o que esperava. Emocionava-se no mundo das suposições.
Voltou ao seu banco na rua e, enquanto sorvia a fumaça amarga, continuava a procurar por sinais de vida sem obter resposta. A rua continuava completamente vazia. Era como se a vida estivesse em outra dimensão e, por alguma maldição ele estava na dimensão errada, onde ele era o único ser vivente. Sentiu-se deslocado. Sentiu-se desolado. Sentiu-se no lugar errado mais uma vez.
[Texto originalmente publicado em www.lobservando.blogspot.com]