AMOR: MATAR OU MANTER A RELAÇÃO
Existem expressões que por si só, ao nos depararmos com elas, se tornam verdadeiras; exemplos: “destruir é mais fácil que construir” e “o amor é perigoso porque ele faz de você um indivíduo”.
A consciência de cada ser humano, possui conhecimento a seu respeito e a respeito do mundo e, a partir disso, constrói um sentido para o mundo em que vive. Conforme as experiências pessoais, diretas ou indiretas, cada ser humano caracteriza e qualifica, de acordo com os princípios construídos, a vida. Nesse sentido, sua liberdade se encontra na responsabilidade, assumida ou não, por tudo que está, esteve ou estará à sua volta. Assim, somos responsáveis pelo nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Sartre já afirmou que "o ser humano está condenado a ser livre", querendo dizer com isso que sua liberdade (a do ser humano) está ligada à sua responsabilidade (de ser humano), da qual não poderemos nos isentar. O Poeta já disse que "o preço da liberdade é a vida", com o que podemos entender que, pela maneira que vivamos iremos nos defrontar com tais e quais resultados. Embora possamos saber que "tudo na vida nos obriga a escolher" e que "cada escolha tem uma ou mais consequências", muitas das vezes nos prolongamos em demasia em estados mais destrutivos que construtivos em nossas ações diante de objetivos caros.
Estamos, constantemente, nos esquecendo que sempre poderemos mudar aquilo que irá definir o que seremos. É certo, entretanto, que embora tenhamos liberdade de poder escolher, estamos sujeitos às limitações de nossas próprias capacidades e/ou das conveniências (o que inclue a convivência=os outros).
A advertência vem, também, de Sartre: "As outras pessoas são fontes permanentes de contingências. Todas as escolhas de uma pessoa levam à transformação do mundo para que ele se adapte ao seu projeto. Mas cada pessoa tem um projeto diferente, e isso faz com que as pessoas entrem em conflito sempre que os projetos se sobrepõem", no entanto, acrescenta: "Um ser humano por si só não pode se conhecer em sua totalidade. Só através dos olhos de outras pessoas é que alguém consegue se ver como parte do mundo. Sem a convivência, uma pessoa não pode se perceber por inteiro [...] somente através da convivência (através dos outros) é que pode cada um ter acesso à própria essência".
A convivência diária, pode fazer com que as pessoas se acham com permissão de, sem perceber ou sem querer perceber, usem de palavras, gestos, atos ou omissões que causem desrespeito e mágoas aos seus parceiros de vida. Jânio Quadros [ex-presidente do Brasil], por exemplo, dizia que a proximidade gerava abusos, daí que não permitia que ninguém o chamasse por “você” e explicava: “você é apócope derivada de ‘vosmicê’ que é corruptela de ‘vossa mercê’, tratamento dignado aos serviçais”.
É fato, comprovado pela psicanálise, que o dia-a-dia pode ser catalisador de atitudes desconexas com o sentimento básico do amor. Quer dizer que o gerador da união de pessoas, o amor, é desabilitado das interveniências corriqueiras. Dá-se, então, mais sabor às fofocas, aos queixumes, às dificuldades, do que ao principal. No relacionamento, então, agredimos ou desprezamos justamente àqueles que nos amam e, porque próximos, neles descarregamos todas as nossas frustrações, transformando questínculas em prato principal. Pior: guardamos ressentimentos fazendo com que problemas fiquem aparentemente superados, tornando-os à tona na primeira oportunidade e, também pela convivência, podemos nos sentir à vontade para tomar atitudes a partir de pensamentos que poderiam e deveriam ser evitados.
Qualquer ser humano, medianamente por si cultivado, sabe que fofoca leva à calúnia e que calúnia leva à difamação, que leva à agressão, o que leva à morte, que necessariamente pode não ser física, mas moral. Mata-se a confiança, mata-se o ânimo, mata-se a afeição, mata-se o amor e, então, aquela pessoa que muito nos estima, que muito nos é cara, aquele ser a quem queremos dedicar nosso melhor sentimento é diminuído, reduzido ao pó, varrido de nossa presença e, pelo abuso na convivência, morre para nós e, algumas vezes para eles mesmos.
Se sabemos que a confiança é a base de qualquer relacionamento, porque é que no amor convivido se permita a desconfiança, que depois de plantada, leva à descrença, ao desamor? A resposta, para muitos, é que vai num crescendo do qual não nos damos conta e, só verificamos quando o amor está num estado terminal. O crescendo começa num descontentamento mínimo (tudo o mais está bem, mas... se não fosse o mas que criamos em nosso pensamento...) que gera desavença, que leva à discórdia. São palavras injustas, expressões que diminuem a pessoa, lembranças de falhas e defeitos, gracejos e ironias, insultos que fomentam réplicas, que germinam pensamentos cheios de raiva, que movimentam atos sem reflexão, que se tornam constantes, que fazem calar, que geram a morte do amor, justamente por pessoas que, em princípio, desejam que ele (o amor) permaneça para sempre. Isso é ampliado porque convivemos e conhecemos o interlocutor, dado que sabemos bem como ferir, como magoar uma ferida existente.
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O amor, o sentimento desejado, na convivência, somente se mantém e cresce quando as pessoas envolvidas na parceria, optam por ele (o amor) em primeiro lugar. Se a chuva, o frio, o calor, a palavra de quaisquer outras pessoas, o preço da carne, a crise do escambau etc, vier ou vierem antes, servirão apenas como estopim da destruição do amor.
“Ninguém completa ninguém” diz a psicologia, porque “já somos inteiros”. Logo, somos melhorados ou piorados, por nós e pelos outros, através de nossas experiências que são os nossos relacionamentos. Relacionamentos com os outros, com os livros (que são escritos pelos os outros), com o entretenimento (que é feito pelos outros), com os valores (transmitidos pelos outros) etc. Desse modo, “as pessoas têm de estar inteiras numa relação. Só assim o amor vai se desenvolver livremente”.
Quanto ao tédio, no mais das vezes, usado como desculpa para certas atitudes é, principalmente, falta de criatividade. Quem se isola ou quer se isolar, diz que está com tédio, mais por preguiça de pensar do que qualquer outra coisa. A existência, a priori, depende do pensar (Descartes). Já rotina é uma palavra inventada por quem não gosta do que faz, porque quando se gosta do que se faz, tudo é bom, tudo é gostoso. Porém, se não se gosta do que se faz, a liberdade de escolha existe para esses casos também: o diálogo consigo e com os outros é que poderá levar a uma modificação dessa insatisfação. Agora, pode ser uma mudança para o bem, tanto quanto para o mal: depende de como iremos debater, conosco e com os outros, o assunto.
“Num casamento saudável”, conforme escreveu o Dr. Daniel Goleman, “marido e mulher não têm receio de expressar suas queixas. Mas o que acontece muitas vezes é que na hora da raiva as queixas são desferidas de forma destrutiva, como ataque à personalidade do outro”.
“A crítica mesquinha e constante enfraquece e aniquila o amor. Viver debaixo de acusações e referências aos próprios fracassos e limitações é prejudicial ao ponto de desenvolver uma atmosfera tão tóxica que o amor não consegue sobreviver, por mais que lute.
Ridicularizar os sentimentos, as virtudes, as fraquezas e as coisas mais caras e preciosas para alguém é a maneira mais eficaz de transformar o lar num verdadeiro inferno, de comprometer suas bases.”
Já a Dra. Nina S. Fields, escreveu que “se a confiança é um dos principais pilares dos casamentos felizes e duradouros, não é de admirar que as mentiras destruam a relação”.
Demanda esforço e competência o trabalho de efetuar uma possível mudança e evitar tudo aquilo que destrói o amor. É necessário que ambas as partes estejam imbuídas (com sinceridade) de parar quando diferenças de opinião tendam a descambar numa batalha e os pontos de vista se transformem em cidadelas a serem defendidas e as palavras se tornam armas. Isso (a disposição de evitar a destruição do amor) só funciona se os envolvidos estiverem mesmo dispostos a se entenderem, porque senão o outro poderá achar que “está ganhando” alguma coisa.
Os estudiosos dos assuntos pertinentes aos relacionamentos humanos afirmam que o contrário do amor não é, como a maioria acredita ser, o ódio, mas sim a indiferença. A indiferença, aliada do desprezo, é mais destrutiva em relação ao amor do que a própria hostilidade, porque enquanto houver hostilidade, que vai minando o amor, ainda há esperança de se evitar sua destruição revertendo-se a situação, mas quando entra em campo a indiferença, o desprezo, é inevitável a morte do amor. Portanto, quem ama e quer amar, deve evitar a indiferença, aquela coisa de não dialogar a respeito das diferenças ocorridas, aquele negócio de que ela/ele “é sempre assim mesmo e não adianta conversar”. A única coisa na vida que é assim mesmo e que não se impede é a morte (mesmo assim, a crença da maioria acredita noutras possibilidades).
Os pequenos conflitos entre casais, dizem alguns, “é como um prato sujo que atrai moscas. Basta lavar o prato que os insetos vão embora”. Assim, antes que cresçam para maiores desavenças, é preciso que ambos reconheçam “a sujeira”, que ambos “lavem o prato” e que ambos evitem acumular “pratos sujos”.
A inveja, de que algumas pessoas infelizmente são portadoras, pode trazer, através de um faz-de-conta de “quero só ajudar” armas letais ao relacionamento. De fato, “mesmo à distância, algumas mentes se unem, cada uma tendo um único propósito: destruir o amor verdadeiro”. É sabido que há pessoas, que por preguiça e incapacidade de amar, procuram viver só para destruir o amor entre um homem e uma mulher ou uma amizade sincera.
Pode-se, entretanto, serem jogados fora todos os padrões de vícios que se tem acumulado, restaurando a convivência para um relacionamento saudável, numa vida natural, sem os rancores adicionados, numa vida, não acreditada como renúncia, mas de alegria em poder conviver, neutralizando-se os venenos que porventura tenham sido inoculados numa relação.
"Se você é muito apegado ao ego, odiar é fácil e amar é muito difícil. Fique alerta, atento: o ódio é a sombra do ego. Para amar é preciso grande coragem. É preciso grande coragem porque requer o sacrifício do ego. Só aqueles que estão prontos para se descorporificar são capazes de amar. Só aqueles que estão prontos para transformar-se em nada, para esvaziar-se completamente de si mesmos, são capazes de receber, do além, o dom de amar. - OSHO - "
Links Úteis:
http://thahy.com/amor/como-destruir-seu-relacionamento/
http://boock.wordpress.com/2008/08/07/os-efeitos-da-critica-e-do-elogio-no-casamento/
http://br.geocities.com/lucasrrodrigues/fimdoamor.html