CONSCIENTIZAÇÃO
 
 
            Comecei a me dar conta duma coisa, várias coisas, não sei se está certo. Fui ao Catetinho e tomei resoluções.
            Mas antes, me deixa dizer que há muito tempo, e principalmente depois de voltar da viagem, eu tenho ficado mais zen, sem esforço para isso, quase uma naturalidade.
            Fiquei e fico na Sede, uma casa desabitada. Como eu. Antigamente eu chegava num lugar, ia logo arrumando, decorando, botando meu jeito e perfumes, flores, etc. Ambientes aconchegantes, sempre bonitos e agradáveis, todo mundo sempre falou isso. Sempre precisei de me cercar de harmonia e beleza. E sempre mudando tudo do lugar, renovando a decoração e confortos. Movimento. Vida. Almofadas amassadas por usos, livros e discos, revistas denotando uso, casa usada, vivida.
            Pois é, mas ultimamente to simplificando e me desprendendo deste jeito. Sinto-me bem com o essencial, ou seja, uma cama, livros, meus remédios, rádio e escrevendo, enchendo papeis e gastando inúmeras canetas: este tem sido o meu luxo.
            To achando as pessoas muito bonitas, as rugas bonitas, belezas nas expressões, sorrisos em o oposto. Muita beleza no ser humano. E a Natureza então me deixa cada dia mais maravilhada com sua beleza gritante e perfeita.
            Minha casa tem rede na sala, rede na varanda e é uma delícia ficar ali um pouco. Preciso de pouca coisa, do alimento, do remédio para manter a saúde, da cama para dormir, do banho para a higiene e descanso, e o carro para me transportar.
            Prazer mesmo são o café e leitura. Ir a cinema, ver TV, estas coisas não fazem falta. Há muito não vejo um filme. Não tenho TV.
            To me achando mais bonita, mesmo mais envelhecida e sem trato, mas cada vez mais eu mesma. O lugar onde fico é quase impessoal. Simples, objetivo, só com as coisas necessárias.
            Constatando como mudei. São coisas que estou deixando para trás. São coisas boas, mas eu estou vivendo o momento meu de agora e este momento é simples e intenso.
            Mas, enfim, o que estou com dificuldade de perceber e dizer é que estas coisas, como o Catetinho, são talvez o mesmo que o quintal da Dona Corália na minha primeira infância. Tudo coisa boa que expressa como fui vivendo no íntimo e à minha volta. O “id”. O Catetinho e tudo que está ali é vida vivida, arte, acervo, tudo significa.
            Mas eu agora, atual não estou ali. Eu não estou em lugar propriamente. Qualquer lugar para mim é bom se for privado, paz.
            Agora eu estou mais essência, mais com direito de exercer esta essência de mim que sou. Pena que sozinha. Mas talvez até melhor, pois, com família, eu não me dou a este direito.
            Eles me empurraram pra fora de suas vidas.
             Empurraram-me para minha vida essencial. A liberdade de ser eu mesma.
             Eu me libertei