Uma história real

Caros leitores, permitam-me adentrar no recanto dessas páginas para conta-lhes uma história cuja realidade merece o registro de algumas linhas poéticas, não sou exatamente uma poeta (como Cecília Meireles) mesmo assim aceito o desafio.

Já estamos habituados a ouvir histórias de jovens que deixam o interior e se aventuram nos terrenos incertos das grandes cidades com o velho objetivo de “vencer na vida” .A jovem que protagoniza essas pobres linhas, fez pois, o caminho contrário, ela deixou a grande cidade na qual vivia (mas precisamente o subúrbio) e partiu em direção ao pequeno interior de seu estado, sem no entanto, conhecer absolutamente nada do lugar em que passaria a viver.

Nossa jovem procurava uma oportunidade para exercer sua profissão, sim, ela fazia parte daquele aglomerado de gente que as Universidades jogam todos os anos nas ruas com um diploma debaixo do braço e nenhuma perspectiva de trabalho em vista, não obstante, nossa jovem havia gasto todas as suas minguadas economias e as esperanças para conseguir seu tão sonhado diploma, sim caros leitores, ela acreditou que tendo um diploma sua vida mudaria.

Para piorar o nível de ingenuidade de nossa jovem, ela embora fosse uma aluna dedicada, dona de um vasto conhecimento intelectual, cultivado por meio de longos anos de estudos, incontáveis noites em claro e fins de semana debruçada sobre pilhas de livros, optou por um antigo sonho infantil, o de ser professora e ainda acreditava que mesmo não tendo muito dinheiro poderia ser uma pessoa feliz e realizada.

Ao chegar em sua nova moradia, ainda menor e mais triste que seu velho subúrbio a jovem encontrou vários obstáculos,tantos e tamanhos que julgava não poder vencer jamais, tais com: Alunos que não querem aprender, meses e meses de trabalho sem ver a cor do seu salário, afinal ela além de ser professora, era professora no estado do Tocantins.

Mas acreditem, ela conseguiu sobreviver, até montou algo parecido com uma casa, a qual chamava docemente de “meu amado lar” e como é comum com professoras que vão trabalhar em cidades bem pequenas, ela encontrou um namorado, obviamente também professor, os dois se apaixonaram e foram muito felizes.

A jovem professora nem mais lembrava que não pertencia aquele lugar, era pois como se tivesse nascido ali.

Porem, eis que depois das eleições municipais, uma loira muito má, que já possuía uma herança paterna de perseguições (tipo, quem não está comigo está contra mim, ainda que não me conheça) passou a deter o poder legislativo da cidade e nesse exato instante uma nuvem negra pairou sobre o sol da vida de nossa jovem, a loira má trocou o emprego que a jovem havia conseguido com muitos estudos e esforços, por votos e apoio político, é no estado do Tocantins escola ainda é curral eleitoral.

Bem, a professora ficou sem casa (teve que ir embora da cidade) sem emprego e sem o seu amado, pois ele também era um desafeto político da loira má (entendam, desafeto político em cidade pequeno é todo aquele cidadão maior de 16 anos que não tenha votado em quem ganhou) e teve também que deixar sua casa e sua cidade em busca da sobrevivência, porem as estrelas (trabalho) dos jovens apaixonados só puderam brilhar em direções opostas.

Assim, nossa jovem hoje está tentando se ajeitar em um lugar ainda mais distante e pequeno que antes, e agora absolutamente sozinha, como nunca ela sente falta de sua cidade, casa, amigos e seu amado, mas a nuvem negra ainda não passou e vejo tempos em que tudo ficará mais difícil, pois não é fácil ser uma peça no tabuleiro político do interior do Brasil.

Gláucia Peixoto,23 de janeiro de 2009