Aleonilda
Olá, como vão vocês? Tudo bem?
Outro dia contei como conheci a Leocádia e como ficamos amigas. Hoje quero contar para vocês como conheci a Aleonilda.
Foi assim: eu estava em sala de aula lendo alguns textos produzidos por meus alunos, quando lá da mesa do Marcos a Leocádia me chamou. Ela era muito disciplinada, não saia do lugar nem perturbava se não fosse coisa importante. Pois bem, ela queria que eu ficasse conhecendo sua prima, a Aleonilda.
Na tarde anterior a Aleonilda tinha chegado na casa do Marcos, sendo trazida por seu pai, o senhor João Paulo. Ele trabalhava em uma grande livraria e papelaria, onde eram vendidos vários produtos para escritórios e escolas. Quando chegava novidade ele comprava para o Marcos, principalmente se fosse livro de aventuras. O Marcos era maluquinho por histórias de aventura.
Mas naquele dia, o senhor João Paulo havia chegado em casa com uma surpresa para Marcos, não era nenhuma novidade, era uma sobra de estoque que havia sido esquecida no fundo do depósito de material para escritório. Entre as sobras de produtos antigos e já fora de uso ele encontrou a Aleonilda.
Não se assustem, a Aleonilda não é uma pessoa que ficou trancada, esquecida no fundo do depósito. Explico melhor, a Aleonilda é uma borracha.
Mas uma borracha diferente. É um Lápis Borracha. Isto mesmo, um Lápis Borracha. As crianças de hoje não conhecem o Lápis Borracha, mas as do meu tempo amavam quando chegavam à quarta série e ganhavam uma caneta azul, uma caneta vermelha e um lápis borracha em seu estojo no inicio do ano letivo. Naquele tempo, não usávamos bolsinha de lápis. Usávamos estojo de madeira. Era a comprovação de que estávamos crescendo. E olha, eles eram lindooos! Tinham uma cor verde clarinho, e uma escrita dourada nos lados dizendo que eram um produto da Faber Castel. Somente quem tinha condições podia ter um lápis borracha. Eram caros os danadinhos. Mas, com o tempo e a evolução dos produtos para escritório e material escolar eles foram esquecidos. Vieram os corretivos líquidos, ou como eu sempre digo os “borro-ex”, isto mesmo, tem gente que faz um verdadeiro festival de borrões nos cadernos. Nada mais sem capricho!
Desta forma foi que a Aleonilda sobrou no fundo do estoque. Pois bem, o pai do Marcos achou que seria uma boa surpresa para o menino. E lá se foi a Aleonilda parar na bolsinha do Marcos.
Depois de se acostumar com o interior da bolsinha, Aleonilda logo ficou amiga de todos. Só não achou graça nas Senhoritas Canetinhas. Elas não paravam de tagarelar sobre coisas que Aleonilda nem sabia o que era. Muito esnobes! No entanto ficou logo amiga de Leocádia, e borrachinha vai, borrachinha vem, descobriram que eram parentes. Eram primas.
Daí não se largavam mais, estavam sempre juntas. Marcos a princípio não achou nenhuma serventia naquele lápis que não escrevia nada. Era muito sem graça um lápis que não escrevia nem coloria. Seu João então mostrou para o Marcos como poderia usar a Leocádia. Pegou uma caneta azul, fez um risquinho na folha do caderno e com a Aleonilda apagou com a maior facilidade. Todos ficaram boquiabertos, do Marcos ao apontador. Então era para isto que um lápis borracha servia!
Meninos nem conto a vocês o pavor que as canetas ficaram. Foi um reboliço só. Quer dizer que agora não teriam a última palavra? Não teriam mais o poder que tinham até aquele momento? O que marcassem nas folhas brancas dos cadernos poderia ser apagado como se fossem um simples lápis preto número dois??? Que pavor!!! Que Horror!!!
Lembrei-me agora de um ditado popular que diz assim: “O que não tem serventia guarda-se cem anos!” Não é que um lápis borracha ainda tem serventia.
Quem gostou mesmo da novidade foi a Leocádia. Agora queria ver aquelas papudas dizerem que ninguém podia com elas. Que eram as melhores da bolsinha. O Marcos então nem se fala, perdeu até o medo de usar as canetas. Agora sim, podia escrever e desenhar com liberdade, sem medo de errar.
No dia seguinte, lá foram as duas para a sala de aula com o Marcos. E foi assim que fiquei amiga da Aleonilda. E as vezes peço ao Marcos a Aleonilda emprestada para apagar algum traço que fiz de forma indevida. Assim aproveito para recordar como era bom ter um lápis borracha para usar. E converso com a Aleonilda, ela é muito culta e sabe um tanto de coisas legais principalmente sobre ortografia. E acaba sempre me dando dicas bacanas sobre o que estamos estudando. Qualquer dia destes conto mais uma história sobre meus amigos da escola. Beijocas para vocês.