Um milagre
Quando a protuberância verde surgiu era quase ameaçadora; mais ainda enquanto se desenvolvia, lançando o estranho bulbo tuberoso completamente destoante do resto do conjunto.
Foi em uma manhã nublada e sombria que, milagrosamente, a intumescência eclodiu revelando uma beleza extrema; a flor que desabrochava tinha colorido intenso e luminoso, e parecia gritar em meio ao verde, chamando mais atenção com suas cores berrantes que o faria com brados frenéticos, de modo que todos vieram contemplar o maravilhoso fenômeno que pela primeira vez se descortinava na região. E todos tinham apenas um e mesmo comentário para descrever o que viam e sentiam: oh!
No dia seguinte, quando o sol já brilhava, uma segunda flor eclodiu, desvelando tanta beleza quanto a primeira, rivalizando com a outra em cada detalhe, mas compondo, ambas, um espetáculo ainda mais estarrecedor que o da véspera, engrandecido também pela luminosidade do sol matinal; e novamente todos acorreram para ver o milagre que se renovava e fortalecia bem ali ao alcance de olhos e mãos, e um único som continuava a se repetir e saudar a belíssima visão: oh!
Em cada nova manhã, uma ou mais flores eclodiam para o deleite de muitos.
Quando a centésima flor desabrochou, quase três meses depois, o espetáculo continuava magnífico ainda que algumas das primeiras flores já houvessem fenecido, no entanto, não mais compeliam interjeições aos eventuais admiradores daquela beleza já comum, do milagre agora desmistificado.
Como são frívolos os olhos!