DA SENSAÇÃO DE SENTIR-SE INDO
Não, braços nenhum a segurava, mas ela se deixava enganar como se eles existissem; na sua ilusão estúpida idealizou a figura de um ser e o mensurou, dando-lhe dimensão grandiosa e o imaginou encantado, não no fundo do mar, mas em terra firme, capaz de seduzi-la pelo canto só perceptível aos seus ouvidos. Quanto tempo durou o seu torpor, o seu deslumbramento de acreditar-se amada? Tempo suficiente para fazer desmoronar toda sua estrutura emocional. E de onde partiu a sensação de sentir-se indo? De braços que se estenderam, não de uma figura imaginária, mas real, que a tomou pra si e fez com os seus braços um escudo capaz de protegê-la, não das vicissitudes da vida material, pois estas não existiam, mas as da alma, do coração ferido. E como foi suave aquele tocar de mãos, que se entrelaçaram e livres de amarras e desconfianças, iniciaram um caminhar lado a lado; e mesmo não sabendo aonde chegar, aquele momento representava a sensação de sentir-se indo..., indo...., indo..., sem mais desejo de olhar pra trás, nem pra dizer adeus... Apenas uma vontade de jogar ao vento, versos de um poema seu, que diz: Dos meus sentimentos / Não mais te quero convencer / Não existe mais marca do teu amor em mim / Repito: Já nem sei que amor foi esse / Se era estranho / Já não domina mais os meus sentimentos.