BUDAPESTE
 
 
 
 
 
         Li Budapeste pela segunda vez para entender.
         Não entendi. Pensei que eu estava entendendo, mas no final “Escrito Aquele Livro” eu não entendi.
         Mas fui tomada de tal emoção. Chorei. Precisei inventar um amigo chegando ao aeroporto e abraçá-lo fortemente, emocional e longamente. Chorei. Chorei.
         Ora se não entendi por que tanta emoção...
         Vou ler de novo esta parte.
         Mas uma coisa que me pegou forte foi a identificação com José que conta seus sofrimentos e persistências. Eu o entendi demais. A persistência. A vaidade em não ser o autor impresso, conhecido desconhecido, conhecido por si mesmo. O sentimento de esse oculto sentir e sua gaveta de escritos seus a sete chaves. A persistência e desistência repentina. Entendi, e mais, é senti ele escrever literatura em brasileiro e não poesia, e virar, nascer poeta espontâneo no som em húngaro. Captar o som, a entonação de fala e por ai ser a expressão poética do sentimento e do dizer as coisas. O entusiasmo do que fazia e descobrir sozinho o fazer. Eu me senti na sua pele indo e vindo indo e vindo em viagem, ficando e depois partindo querendo apagar o mais precioso.
         Não agüentando.
         Estou muito emocionada. Chico é assim, pega a gente no mais fundo, e desprevenida.
         Quando ouvi “Geni”, eu dirigia na Avenida Quinze de Novembro de Petrópolis, com a família. O radio tocava e ouvimos pela primeira vez Geni. Enquanto dirigia fui diminuindo a marcha, ouvindo aquela musica e quase entendendo, mas, mais era sentindo. Foi tão nocauteante, que tive que parar no meio fio e chamei a atenção dos filhos e marido para a letra, para a historia, e exigi silêncio.
         Entendi no ultimo verso, ou seja, quando a música terminou. Enquanto ouvia eu não “entendia”, eu só “sentia a Geni”.
Ao final eu disse – “gente, a historia é assim, assim, assim. Só eu percebi a abrangência daquela música. Precisei ficar parada e em silencio, e parando um pouco estacionada ali na calçada estacionada ali na Praça D. Pedro ate recuperar do espanto da grandiosidade do talento do Chico.
         Mas esse livro, hoje, mesma coisa. Eu sou assim “meio retardada’ e, ao mesmo tempo, “mais adiante do normal”. E algo interessante. Tenho um tempo para cada coisa, diferente pra outras. Tenho um ritmo racional e emocional. Não sei me avaliar ou me definir. Mas gosto também destas mudanças que me acrescem, me aceito com prazer destas novidades, talvez uma evolução, sinto como coisa positiva e mais ampla. Não importa. Eu sou eu.
        E o Chico fala é para estas pessoas que, como eu, não preciso entender para sentir. Ele quer é passar a sua alma, a sua genialidade além da razão, importa é ser artista. Passar a ARTE, como Van Gogh. Fazer, Passar e Doar generosamente a Arte para a Essência dos Outros que precisam sentir o incompreensível .