Estereótipos

Tratei de definir (e já vou explicar porque) a palavra mulheraça; ou “mulherão”, na forma como é mais utilizada. E pelo que consta nas páginas do meu íntimo amigo Aurélio, trata-se de uma mulher alta e forte.Aprofundando o conceito, e extraindo toda a sagacidade que o dicionário da língua portuguesa não alcança, mas a criatividade humana trata de incrementar; mulherão é uma mulher alta, forte, bonita e gostosa.

Quem quiser uma definição concreta, é só buscar nas páginas de revistas e imagens da tevê. Um desfile de mulherões se apresenta todos os dias, para todos os gostos e preferências. Sem dúvida, para quem ser “um mulherão”, resulta num disparo do cifrão na conta bancária, é um baita currículo.

Ser mulherão abre portas. Dá asas para quem não sabe voar (mas acaba aprendendo). Transforma a mediocridade em talento, e uma simples mortal em divindade. Cria fãs-clubes, adoradores, seguidores, loucos e fanáticos.

As telas do cinema trataram de personificar as divindades femininas. Há décadas atrás, Marilyn Monroe foi descoberta pela sua beleza, e só depois descobriu que poderia utilizar-se dela para desenvolver a sua capacidade. A beleza do furacão loiro causou furor e arrebatamento pelo mundo todo. E quem poderia considerar que aquele belo par de pernas e de olhos; aquela boca carnuda; aquela cabeleira loira, não tivesse talento? Só um louco de pedra!

Marilyn foi o marco do mulherão. A partir dela, novas e novas divindades, foram surgindo e ganhando espaço nos calendários masculinos, nas revistas masculinas, e atualmente nas tevês da família inteira. Entretanto, com a volatilidade atual, o produto “mulherão” atinge o ápice de sua valorização no mercado, com a mesma rapidez com que declina. Sobreviver deste “talento” requer muito talento.

Se você percebeu certa ironia até aqui, com certeza consegue ler mais do as simples palavras que preenchem este texto.À medida que este conceito tem tomado proporções voluptuosas, simultaneamente tem causado danos às mulheres que não são nem altas, nem bonitas (para os padrões estabelecidos), nem gostosas. Mulheres que precisam trabalhar a sua auto-estima, para que ela não desmorone diante de tanta divindade exposta por aí. Que se tornam escravas da balança e do bisturi, na ânsia de galgar alguns degraus do pedestal que exibe e aceita, só mulherões.

Ser bela não é ruim e nem é pecado. O equívoco consiste em se valorizar apenas aquilo que se vê por fora. O que é ruim é o culto exacerbado da beleza física e do padrão estético. O que é lamentável é a conceituação de beleza como um atributo essencialmente externo. O espírito inexiste no momento em que se vê apenas o corpo.Precisamos começar a praticar com urgência a ginástica espiritual.

Devemos desejar sermos mulherões sim. Mas por tudo aquilo que temos feito e sentido e que não está exposto em nossa altura, no nosso manequim, no nosso exterior. Que o nosso espelho reflita primeiro a beleza do que somos.

Da mesma forma, devemos desejar homenzarrões sim. Somente os homens que sejam altos, fortes, bonitos e gostosos; por dentro.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 21/01/2009
Reeditado em 25/01/2009
Código do texto: T1396513