História de Leocádia.
Conheci a Leocádia há muito tempo atrás. Naquele tempo Leocádia era novinha em folha e tinha um cheirinho de morando que só vendo, dava até vontade de dar umas mordidelas.
A primeira vez que a vi ela estava chorando, escondidinha num canto, meio suja de poeira de giz, debaixo de uma mesa. Chorava tanto que foi difícil entender o que tinha acontecido.
Eu explico, é que a Leocádia era uma borracha, isto mesmo, uma
B O R R A C H A E S C O L A R!
Tudo começou num belo dia do mês de fevereiro, era a primeira vez que Leocádia ia ao trabalho, isto é, ia a escola. Ela estava toda feliz na companhia de seus novos amigos: o Lápis Preto, a família dos lápis de cor tão coloridos e gentis, dona Régua sempre certinha, os senhores Cadernos todos muito bem arrumadinhos e os Livros cada um mais esperto que o outro, e o senhor Dicionário muito distinto e sério. De quem Leocádia não gostava muito era das senhoritas Canetinhas. Elas eram muito esnobes. Achavam que estavam sempre certas. Mas de quem Leocádia mais gostava era de Marcos, o dono da mochila onde todos ficavam guardados até chegarem à escola.
Marcos era um menino esperto e alegre. Muito curioso estava doidinho para aprender a ler, afinal já estava com seis anos e para um rapazinho como ele, saber ler era tudo de bom!
Quando Marcos chegou na escola e foi encaminhado para a sala de aula junto com seus colegas, ficou admirado de ver tanta criança junta falando ao mesmo tempo na maior alegria. Logo todos se encantaram com a professora, muito alta e alegre, que a todos tratava com carinho e atenção.
E era tanta novidade, tanta coisa interessante que Marcos nem viu a tarde passar, logo já era hora de ir para casa contar as novidades para a mamãe.
No dia seguinte Marcos voltou à escola ansioso para aprender e ver mais coisas interessantes.
Marcos logo fez muitos amigos na sala de aula. Ele gostava de ajudar por isto sempre emprestava seu material para os colegas. Naquele dia alguém precisou de uma borracha emprestada, e Marcos mais que depressa emprestou Leocádia com a maior boa vontade. Leocádia nem se importou porque o que ela mais gostava era de apagar erro de menino. E de uma mão Leocádia passou a outra e mais outra e foi se afastando cada vez mais de Marcos. Quando deu por si, Leocádia estava perdida, já não sabia mais onde estava seu dono. Para piorar bateu o sinal para a hora do recreio e a meninada assanhada se levantou de uma vez pronta para ir merendar e brincar um pouco. Nesse momento Leocádia caiu da mesa onde estava e foi parar depois de rolar um pouquinho, debaixo da última mesa da sala de aula.
Depois que a meninada saiu para o recreio, fiquei alguns minutos na sala guardando umas tampinhas que tinham sido usadas na aula que terminara. Enquanto organizava as tampinhas no cantinho da matemática, ouvi um chorinho bem fraquinho, distante, mas muito triste. Preocupada olhei a minha volta e pensei que tinha me enganado quando novamente ouvi o mesmo chorinho. Alerta comecei a procurar de onde vinha àquele soluço tão tristes. Qual não foi meu espanto quando na última mesa da fileira da esquerda, debaixo da mesa, bem no cantinho mais escuro e empoeirado avistei a borracha encolhidinha e choramingando.
Muito preocupada abaixei-me e peguei delicadamente a borracha em minhas mãos e suavemente limpei suas lagrimas. Em seguida com muito carinho perguntei:
__ O que foi que aconteceu com você amiguinha?
Leocádia um pouco mais calma contou o que havia acontecido.
Levei Leocádia para minha mesa, colocando-a em minha bolsinha de lápis dizendo-lhe que descansasse um pouco que logo tudo estaria bem novamente.
Leocádia ficou tranqüila e até tirou um cochilo no escurinho da bolsinha enquanto aguardava a volta dos alunos após o recreio.
Quando a turma retornou a sala, acomodei os alunos e disse-lhes que tinha um comunicado a fazer.
Havia alguém perdido na sala de aula. Todos ficaram curiosos para saber quem era porque não sentiram falta de ninguém. Contei tudo o que tinha acontecido ensinando para meus alunos uma maneira muito bacana de usar as palavras e a história de Leocádia ficou assim:
Bonita e prestativa
Olhem só o que lhe aconteceu:
Rolou pela sala e
Rapidamente se perdeu,
A borracha novinha
Com cheirinho de morango
Houve choro e soluço
Achada, voltou feliz para seu dono Marcos.