Gasombinho.
Gasombinho. Este era o nome do lampião a carbureto, feito por meu pai, para iluminar nossa casa na época em que não tínhamos luz elétrica no bairro. Eletricidade era um luxo destinado aos bairros ricos. Nesta época a Companhia Força e Luz ainda não havia democratizado seus serviços para os bairros da periferia de Belo Horizonte.
Para ascender o Gasombinho havia todo um ritual. Depois de chegar do trabalho e tomar seu banho, pai ascendia o lampião para jantarmos. O carbureto é uma pedra azul, mal cheirosa que produz um gás, o acetileno. Era usado nas fábricas como combustível para as forjas. Meu pai era ferreiro, e trazia o carbureto para casa, com o qual abastecia o Gasombinho. Para nós, crianças, verdadeira mágica era o Gasombinho ser aceso, iluminando com sua luz azul toda a sala. Tínhamos também lamparinas, mas nada rivalizava em nossa querer ao Gasombinho. Feito de ferro por meu pai era composto de duas peças ovais que se aclopavam em rosca. Em cima uma saída para o excesso de gás e uma espécie de chaminé por onde era aceso. Tinha um dispositivo que controlava a força da chama. Éramos proibidos de tocar ou ascender o Gasombinho. Ficava em uma prateleira bem alta, onde não podíamos alcançar.
Durante muito tempo Gosombinho iluminou de azul nossas noites e as histórias que meu pai nos contava após o jantar. Foi com meu pai que tomei gosto por dar nomes a objetos e a contar histórias.