NOSSA PERPLEXIDADE FRENTE A MAIS UMA TRAGÉDIA

Final de janeiro, a seis dias do aniversário de quatrocentos e cinquenta e cinco anos da cidade de São PAulo, e nós infelizmente estamos mais uma vez em luto.

E hoje me perguntei se não é tragédia demais para uma cidade e se não é adversidade demais para um país, quando somamos as demais tragédias fora daqui, como as que ocorreram em Santa Catarina, Rio de Janeiro e nas Minas Gerais, estados tão castigados pelas últimas e recentes chuvas.

Em menos dois anos contabilizamos aqui na cidade. o afundamento do solo deflagrado pelas obras do METRÔ, o assustador acidente da TAM, e agora o desabamento do teto dum templo da igreja RENASCER.

Várias vidas se ceifaram, sem que tenhamos entendido muito bem o que de fato ocorreu.

Obviamente aqui não me cabe falar em culpas, embora confesso que parece impossível que não queiramos encontrar culpados para os fatos que talvez pudessem ser evitados.

Sou leiga em Aviação , em construção civil, muito menos entendo de estruturas metálicas.

Mas tenho olhos.

Tanto tenho que aqui gostaria de deixar registrado um fato que ocorreu comigo a pouco menos de dois anos.

Trabalho num local, cujo prédio é vizinho dum terreno baldio, que tem suas margens a uns tres metros acima do meio fio, cravejada por árvores de grossas e pesadíssimas raízes.

Observei que o solo das margens estava sendo infiltrado pelas águas das chuvas deixando as raízes bambas sobres os carros estacionados, e sobre os transeuntes, inclusive crianças que brincavam sempre por lá.

Certa vez depois dum temporal, a terra cedeu, e uma das raízes ( a maior delas) ficou praticamente ancorada por um fio telefônico, já totalmente solta da terra a um passo de desabar sobre pessoas e automóveis.

Daí começou minha saga.Resolvi ligar para a subprefeitura da região.Ouvi que não era com eles.Liguei para a defesa civil, tres vezes. Nas tres, ouvi que não era com eles. Liguei então para os bombeiros, que me orientaram ligar para a subprefeitura. Fechou-se o ciclo e na verdade ninguém me ouvia. Deduzi que era comigo! Que o problema era meu, e de todos que corriam risco real e potencial.

Todas as vezes em que liguei, depois de dar meu "curriculum vitae" para quem estava do outro lado da linha, eu ganhava uma senha de registro de queixa...e as raízes continuavam lá.

Colecionei senhas.

Não desisti, e as vezes me impressiono com a minha persistencia.

Então, liguei novamente para os bombeiros.Quase chorei. Forneci todos os números de queixas que tinha em mãos, e depois de mais uma vez registrarem todos os meus dados, ouvi que embora fosse um serviço da prefeitura, a corporação atenderia ao meu pedido. De fato me atenderam naquela tarde.

E foi retirada apenas "a raíz desbarrancada". As outras continuam lá aguardando pelas próximas chuvas, até hoje ancoradas pelos fios elétricos e pelo cabos de telefonia.

Frente a essa minha "experiência", eu me pergunto se realmente as inspecções dos imóveis, das vias públicas e das demais situações de risco das metrópoles são feitas a contento pela defesa civil, ou pelos órgãos responsáveis pelas devidas fiscalizações.

Quantas das nossas tragédias são frutos das negligências, das imprudências e das imperícias...e quantas poderiam ter sido realmente evitadas?

Eu não sei responder.

Os Bispos chefes da Renascer, quando arguidos sobre os possíveis motivos do desabamento da igreja, disseram que são sofrimentos que têm "explicação maior".

Afinal, são teólogos e têm toda a formação para assim acreditarem e se justificarem.

O que me preocupa é que, ao que tudo indica, nossos homens públicos pensam do mesmo modo.

Enfim, acho tragédia demais, e acredito que de algum modo estamos falhando como sociedade organizada.

Está na hora de mudarmos a postura para revertermos nossas trágicas estatísticas antes que choremos mais vezes por tantas vidas derramadas...

Deixo aqui meus lamentos e minha vã perplexidade. Mais uma vez.