Sobre bebida, Ritalina e a Luciana Gimenez
Há uns dias um amigo de um amigo me perguntou se eu não bebia, numa roda de amigos, e eu disse que não. Eu não bebo porque eu não gosto mesmo, nunca gostei. Mas pra evitar piadas criativas e inovadoras do tipo “não sabe o que ta perdendo” ou “nunca fiz amigo bebendo leite”, geralmente eu falo alguma gracinha, das quais a minha preferida é dizer que sou ex-alcoólatra e ex-dependente químico. Aí nego fica sem graça e o assunto acaba. Mas nesse dia eu tava de bom humor - maldita hora – e resolvi falar que não gostava. E caí na asneira de falar que além de não gostar, não posso beber, pois tomo dois remédios de tarja preta. Depois de uma brevíssima explicação de que sofro de Déficit de Atenção pronto, me fodi. O tal sujeito começou um discurso já bastante influenciado pelo álcool que ele, infelizmente, podia beber, e bebeu. Aí falou que na época dele não tinha isso. que essa frescura de depressão, DDA, hiperatividade, era tudo frescura, e que os médicos inventaram isso pra ganhar dinheiro. Como não tivesse nenhum objeto contundente mais pesado que uma garrafa de whisky a mão pra encerrar o assunto da maneira que ele merecia ser encerrado, tive que me contentar em argumentar verbalmente. Disse que não ia discutir com um imbecil desses, e que se ele continuasse enchendo meu saco eu ia enfiar o meu guarda chuva no rabo dele e abrir ele lá dentro. Aí ele voltou pra cerveja e a discussão acabou. Mas eu dei essa volta toda porque é comum eu ouvir isso. Que antigamente não tinha isso, não tinha aquilo. Mas não é que não tivesse. “Antigamente” não existia a quantidade de estímulos, informação e canais adultos que existe hoje em dia. As crianças não tinham tantas opções de profissões, não tinham tantas distrações nem tinham a possibilidade de ver o programa da Luciana Gimenez apresentando um padre, um ex-travesti e um antropólogo discutindo a influência da televisão (!) sobre as crianças. Haja tratamento. Só eu assino sete revistas, três jornais; tenho 122 canais na TV à cabo, cinco mil músicas no meu computador e/ou no meu celular, leio entre quatro e sete livros ao mesmo tempo e, via de regra, não lembro de porra nenhuma do que li, vi ou ouvi dois dias depois. E haja Roupinol, Alpazolam, Ritalina e o comando vermelho pra nos dopar e nos manter nos trilhos. São outros tempos, outros problemas, outras soluções. O que antigamente era socialmente aceito para se livrar do estresse do dia-a-dia hoje não é mais. Hoje em dia, ao invés de chegar em casa bêbado, meter a porrada na mulher, comer a empregada, mijar no armário da cozinha e ir dormir de sapatos abraçado com o cachorro, a gente toma tarja preta. Uma troca justa, se você for a esposa, a empregada ou o cachorro. Quanto à mim, não trocaria nem a minha assinatura da Japan Sex nem o “Cana do Boi” na TV à cabo para parar de tomar remédios. Como diria o necrófilo, ossos do orifício...