O olho, a polícia e o Estado

Até que há no Brasil polícias bem preparadas, dispostas à investigação, mas subordinadas a vontades políticas, estas sim, despreocupadíssimas com o odor forte das súplicas sociais. Após cada pleito eleitoral, o Estado muda o olho e o olhar sobre a sociedade que governa. Em detrimento dos técnicos, põem-se os apadrinhados políticos para gerirem a coisa pública, como se papagaio escrevesse cartas.

No dia em que o Estado brasileiro, usando a lei – apenas a lei – quiser olhar e enxergar os erros gritantes dos seus maus cidadãos, tenhamos a certeza de que isso trará proveitos mil a ele e à sociedade como um todo. Mas o que se vê por aqui é que nada é visto. Eu até deixo você perguntar-me o que quiser, mas eu só respondo o que eu quiser, ainda que tudo saiba.

Um grupo de cientistas japoneses, ligados a neurociência, acabou de realizar um experimento fantástico que, quando aprimorado e posto em prática, deixará as pernas curtas das mentiras mais curtas ainda, além de justas. Na direção que olharmos e enxergarmos, isso será passível do registro sem que careçam ofertar-se as palavras discursivas a qualquer autoridade. A máquina dirá exatamente o que estamos vendo.

Usando um aparelho ultramoderno de ressonância magnética, esses cientistas japoneses conseguiram enxergar – via máquina – o que outros olhos humanos que não os seus estavam vendo. Um programa de computador foi feito para que fosse possível a máquina evidenciar com registro próprio, o que via esse olho estudado. Alguém olhava imagens, e a máquina dizia qual imagem estava sendo enxergada por aquele olho.

Eu gostaria de saber qual seria a imagem exata que um político faria sobre uma multidão de pretensos eleitores, às vésperas de um pleito eleitoral. E a que um juiz criaria sobre um corpo de jurados de opinião absolutamente diferente ao seu raciocínio sobre os autos de determinado processo que estivesse ele julgando.

Um tempo chegará, e não o é tardoso, em que uma dessas máquinas do olhar apontada para um de nós dirá o que pensamos e o que estamos pensando. A ciência criará engenhocas que despedaçarão as mentiras e descobrirão o segredo dos nossos segredos ou, quem sabe, a alma de nossas almas.

Como este 2009 que está apenas começando, isso também é verdadeiro para esse grupo de neurocientistas japoneses. Mais tarde - e que não nos seja tardio – saberemos mais sobre as possibilidades de um robô como este e aprenderemos a olhar e ver o que o nosso olhar entende como socialmente correto.

Começo a crer que as sementes não necessitarão mais de terra para germinar e desenvolver, assim como não necessitará a justiça das palavras, dos discursos, para acusar ou absolver quem está a mentir ou a falar verdades. O homem terá exposto a todo o olhar do Estado a sua bioquímica – da lágrima ao abraço afetuoso. Destrinchá-la será uma questão de minutos. Será que a máquina tornar-se-á mesmo maior do que nós? Que nada! Se faltar energia, continuaremos a enxergar no escuro, embora com menos acuidade. O Criador será sempre o criador e a criatura, sempre ela! Sei lá....viu?