Um dia salvei uma vida…

Foi em Agosto de 1999, quando fui passar uns dias a Tomar, a casa do meu melhor amigo.

Eram umas pequenas férias que serviam de balão de oxigénio antes de começar a exercer o meu curso.

Esse camarada, que me tinha acompanhado em algumas das fases mais críticas da minha vida, tinha-me convidado, pois sabia que aquela pausa era a única que teria em muito, muito tempo, e como sempre, essa capacidade nata de antevisão comprovou-se, e aqueles 3 dias foram maravilhosos, alguns dos melhores da minha vida.

Era o meu primeiro verão como Licenciado, numa terra que ligava muito a isso, e esse amigo aproveitou para fazer alguma prospecção laboral e apresentar-me a certas pessoas que poderiam ser determinantes no meu futuro.

Eu, pela primeira vez na vida, era a estrela do momento, o centro de todas as atenções, pelo curso que tinha e por ir trabalhar numa área de elite, e muitas expectativas (maiores do que eu sequer imaginava) recaíam sobre os meus ombros.

Mas eram dias de férias! E eu, pela única vez na minha existência, deixei-me levar por uma certa vaidade, sentindo-me nas nuvens, num céu ao qual tinha acabado de chegar.

A história que me leva a escrever estas linhas…bem…poderia dar umas páginas, quem sabe um livro, mas para quê?

O que importa é que numa madrugada anónima salvei uma vida.

Agi por instinto, sem ter tempo para pensar muito na coisa em si, a não ser o facto de alguém precisar de mim, e de ser a única pessoa em condições para agir, e só quando cheguei a casa, depois de ter transportado a rapariga ao hospital e antes de me deitar é que esse sábio me disse que tinha salvado a vida àquela mulher.

Agi como um ser humano e porque tinha sido treinado para agir em condições semelhantes às que encontrei.

Cumpri o meu dever de cidadão e de ser humano, não me sentindo superior a nada nem a ninguém, e apesar de ter passado a ser olhado como uma espécie de herói, não me senti diferente, senti-me melhor e feliz por ela, apenas isso…

No entanto, quando as nuvens escurecem os meus dias por demasiado tempo, quando as coisas não correm conformem o que planeei, o facto de pensar nela e de saber que impedi a sua morte, devolve-me as forças perdidas, devolve-me a fé, simplesmente porque numa noite perdida, achei um sentido, salvei uma vida.

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 18/01/2009
Reeditado em 18/01/2009
Código do texto: T1391675
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