E por falar em saudade...
Há dias em que o coração migra para lugares que os passos da mente querem ignorar. Imagens que subvertem a razão, onde as lembranças preenchem o álbum do presente. Recordações que enfeitam teimosamente as paredes do coração, lembrando-nos de sorrisos que dividiam cumplicidades e olhares que focalizavam carícias insones.
Não adianta qualquer protesto veemente, quando a fotografia da saudade deita-se em nossos pensamentos. Nossas pretensas resistências são recheadas de consentimentos e permissões. Impossível resistir aos segredos provados no silêncio, quando os lábios da nostalgia nos beijam.
A saudade transita nos nossos recintos mais sagrados. Anda por nossos espelhos, onde guardamos imagens e vontades indizíveis. Acorda desejos , enfeitiça nossos olhos, arrefecendo todas as juras de esquecimento.
A saudade é travessa, guarda os nossos sonhos em taças propositadamente repletas de esperanças, como que para embriagar nosso coração. Espreita emoções, indiferente ao tempo. Entrelaça os nossos olhos em horizontes, que vezes, já não alcançamos e nos faz ouvir os sons secretos do coração em uníssono, celebrando o que se nos afigurava como eterno.
Somos presas fáceis nos braços da saudade. E quando ela nos envolve, parece descobrir todos os silêncios contidos em abraços que podem ser revividos ou que foram apenas sonhados no leito dos nossos olhares.
A saudade possui uma fragrância que continua perfumando as noites de luar, ninando beijos e ausências que nossos corações insistem em tocar.
Nos olhos da saudade sempre existem capítulos a escrever, estrelas a contar...
Fernanda Guimarães