UM INFARTO (IN) VERÍDICO

Semana passada, enquanto todos se divertiam aproveitando as férias de janeiro, eu fui – juntamente com um colega professor – fazer o IV Curso Internacional Orff-Schulwerk de Música na Escola e sua Aplicação Didática, ministrado por James Harding e Verena Maschat. Ele, inglês; ela, austríaca. O curso tinha como objetivos principais, dentre outros, desenvolver a sensibilidade musical e estética, aproximar os professores da música com movimento corporal, adquirir um tônus psicofísico equilibrado, valorizar o silêncio e a quietude como elementos indispensáveis para o desenvolvimento da concentração e da audição interna.

Confesso que não é bem a minha praia, mas, podem acreditar: voltei maravilhado com o curso. Para começar, a capacitação se deu na Faculdade de Música da UFRN, onde tínhamos, nos rodeando a todo instante, os melhores aprendizes de músicos – e também de formadores – do nosso Estado. Segundo, porque passei a perceber o quanto a música interage com o nosso corpo e, através da percepção auditiva, nos proporciona uma plenitude interior muito maior. Terceiro, porque as aulas são dinâmicas e sua versatilidade surpreendente.

Porém, como em qualquer paraíso que nós conhecemos, neste também aconteceram fatos que vieram para quebrar a rotina. Por exemplo: no segundo dia de curso, uma notícia vinda da minha cidade dava conta de que eu havia sofrido um infarto na capital do estado. Polvorosa. A Secretaria de Educação designou uma funcionária, especialmente para dar assistência e providenciar o que fosse necessário.

Bem, neste intervalo eu tinha ido almoçar com meu colega daqui de Mossoró e com o restante da turma. Por um acaso, esse colega tem o mesmo nome que eu: Raimundo. Eu sou Antonio, e ele, Nonato. Ele ficou almoçando, eu saí mais cedo e voltei para a escola de música. Quando cheguei, encontrei a espera do professor Raimundo, uma jovem senhora - de ar compenetrado - perfilada em posição militar, que estava ali para amenizar o sofrimento do “outro” professor de Mossoró.

Assim que entrei, fui encaminhado para ela, que formalmente me perguntou se o professor Raimundo estava passando bem ou se o caso era grave. Como eu fiquei aéreo sem saber o que estava acontecendo, ela foi me explicando e tendo o cuidado de não produzir um efeito negativo nas palavras. Para completar as coincidências, eu sabia que o “outro Raimundo” já tinha um histórico nesse sentido, pois o mesmo já havia sofrido dois pequenos, digamos assim, problemas com o coração.

“Não se preocupe, professora. Não aconteceu nada disso com o professor Raimundo Nonato. Ele está bem. Acabei de deixá-lo almoçando e ele já está vindo para cá. Essa notícia é improcedente” - disse para tranqüilizá-la.

“Professor, desculpe, mas não estou preocupada com o professor Raimundo Nonato, e sim, com o professor Raimundo Antonio que, segundo me foi informado pela 12ª DIRED de Mossoró, sofreu um infarto há cerca de uma hora atrás” - falou taxativamente a enviada da secretaria.

Juro que quase sofri um infarto, de verdade, ali mesmo, tamanha foi a minha surpresa. O pior é que eu fiquei sem saber o que dizer, e ela – como toda enviada que se preza -, já cuidou de sentar-me e falar com uma cara condoída que, só de olhar, dava dó.

“Calma, minha senhora (já apelei para o substantivo). Está havendo um grande equívoco com essa notícia. Em primeiro lugar, o professor Raimundo Antonio sou eu e, como a prestativa senhora está vendo, não estou sem falta de ar, com dor no peito ou batimentos cardíacos acelerados – apesar do susto ao saber tal notícia. Em segundo lugar, nunca me senti mais disposto na vida, o que não deixa de ser um grande paradoxo diante de tal notícia” - falei tentando interceptar suas palavras para que ela não continuasse desfilando expressões reconfortantes.

Desfeito o mal entendido, tratei de telefonar para casa, pois se a notícia tinha partido da minha cidade, com certeza meus familiares poderiam estar preocupados.

Na volta, para onde estava hospedado – casa dos professores –, quando alguns colegas me viram, ficaram surpresos e ao mesmo tempo aliviados com a minha presença ali. O resto foi só desfazer, com gozação, o mal-entendido. Mas, que notícia ruim anda rápido demais, isso anda.

Nota do autor: infelizmente, o caso aconteceu com um colega, também chamado Raimundo, mas que na pressa, uma diretora espalhou que tinha sido comigo. Ao colega lesionado, votos de melhoras



 

Obs. Imagem da internet

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 18/01/2009
Reeditado em 05/12/2011
Código do texto: T1391126
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