O PÉ DE JATOBÁ
A casa espaçosa, o quintal grande, a praça e as ruas, nada superava o prazer de estar à sombra do frondoso jatobazeiro. Atrás do quintal de casa, o pé de jatobá atraía a criançada, que à sua sombra jogava bola de meia, brincava de pega ladrão, corria de bicicleta, dançava de roda, ou, simplesmente sentava em círculo e contava histórias.
Para completar, o meu pai instalou um balanço no seu galho mais forte. Desse dia em diante, havia sempre disputa para ver quem chegava primeiro no balanço. Bastou um rolo de corda e uma tábua e pronto. A vida era bela!
Uma certa manhã, tive a sorte de acordar primeiro e aproveitei; mal havia sentado no balanço, fui rodeada pelos meus irmãos maiores que usaram de todos os argumentos, sem resultados, e nada puderam fazer, senão aceitar e esperar a sua vez.
Sem outro recurso, um deles começou a impulsionar e, quanto mais alto o balanço subia, mais me parecia insuficiente, até que voei pelos ares, como não nasci com asas, fui parar no chão de terra, duro e frio.
Caí de costas. O impacto da violenta queda privou-me momentaneamente da fala.
Desesperada com a dor e a falta de voz, fiz caretas, movi os lábios, e nada.
Eles acreditaram que se tratava de brincadeira e explodiram em gargalhadas, deixando-me furiosa.
A raiva provocou o retorno da voz.
Pude gritar a plenos pulmões. Levaram-me quase nos braços para a presença de mamãe, que sabia como resolver. Cama pelo resto do dia, e um cálice de vinho Malzbier para que o sangue se normalizasse depressa.
MCC Pazzola
2009/jan/16