A Baianidade
Hoje, como não faço costumamente, vou falar de uma maneira mais pessoal aos bons amigos leitores; não apenas pelo fato de que ser baiano e falar de baianidade liga-me diretamente as minhas raízes. Em verdade não é muito por isso que vou falar de mim para eu mesmo, digamos assim. Mas pelo simples fato de que a partir de meus olhos considero que o amigo, ou amiga leitora, possa testemunhar com mais vivencia a estória, os fatos, os sucessos enfim.
Sem contar a inteira preguiça a qual neste momento me encontro para falar como uma personagem ou ao menos de fazer o conto – o qual de fato em uma outra oportunidade farei sobre o referido tema acima.
Falar de baianidade em si não é somente a descrição exata das festas populares ou dos nossos traços marcantes, ditos como baianos. Na realidade, não é nem mesmo uma filosofia de vida ou doutrina zelosa a qual nós, nos entregamos de corpo e espírito – apesar de que tanto o corpo como o espírito têm muito haver com o assunto.
É ser em uma simples palavra, baiano. Ouço risos? Calma, explicar-te-ei melhor.
Para se ter como exemplo, a você meu bom amigo leitor, imagine-se aqui neste exato instante. Se você por algum acaso desconhecido não o sabe, ontem foi dia 15 de janeiro; o que o dia 15 de janeiro tem haver com todo o relato? Praticamente tudo. Agora tenha-se na mente que ontem não é ontem, e sim hoje, agora neste exato agora. Você está ao meu lado em uma das ruas da distinta e ilustríssima cidade d’O Salvador. E hoje é dia nada mais, nada menos do maior santo da capital baiana. Hoje é dia de Senhor do Bonfim. Poderia eu alargar esta humilde crônica no contar de um tudo sobre o nosso maior santo, mas como falei acima, esta é apenas uma humilde crônica, num conto relatemos melhor sobre Ele; noutra hora falemos do Senhor mestre Jesus.
Todavia mantenhamos onde estávamos. Em pé na rua direta da Calçada. Outrora este bairro fora muito importante para o comercio – não que ainda hoje ele não o seja – porem perdera há anos seu prestigio.
-Que o diga a Baixa dos Sapateiros! Outra hora...
Tudo bem, eu, o bom amigo leitor – ou amiga leitora – e uma multidão enorme de gentes para todos os lados em pleno dia normal, de semana. Isso mesmo, dia comum de trabalho, não se trata de um feriado não. É um dia normal bons leitores, e milhares de caminhantes movidos pela fé andam em direção ao bom Senhor do Bonfim.
Certamente alguns não o vão pela religião, ou pelo bom querer do mestre Jesus, se vão com o único intento e desejo de se lograr numa festa a perder de hora. Outros se destinam a passar quase duas horas a pé, até a colina sagrada, ver a lavagem, tomar um bom banho de cheiro, e lavar a alma com o sentir do trabalho bem feito. No entanto, a suma maioria dos baianos faz os dois. Revigoram primeiramente a alma pelo bom Senhor Jesus, e depois, exauridos pela caminhada se voltam a festa.
Voltemos então a nós. De a cá podemos encaminharmo-nos diretamente à colina sagrada e ao Bonfim, ou cairmos de cabeça na festa. Imaginemos o que eu quiser pelo pouco espaço que uma crônica possa apresentar. Fomos a ultima hipótese. Andamos como se diz por aqui numa expressão que lisonjeia tanto a mente quanto o corpo – “Quem tem fé, vai a pé” – e eu te levo da Calçada, o bairro da Calçada, perpassando por centenas de andantes, envoltos por marchinhas de carnaval, entoando ora musicas populares, ora musicas de pura religiosidade, por vezes alguns carros carregados por caixas de sons, e no fim lá chegamos – percurso este o qual ainda estou por fazer...
Vemos a boa festa, tomamos o banho de água de flor, falamos com as baianas – alguns preferem os banhos de pipoca, apesar que estes são para outro santo muito querido também – de lá andamos mais, penso eu, uns quinze quilômetros, a pé, até a praça do Comercio, visitamos o Mercado Modelo, e brincamos o que pudermos.
Não contarei aqui nada que se arremeta a nuances de lascívia ou obscuridades de lutas tolas em plenas festividades – comuns principalmente em carnaval – por falar agora numa festa religiosa. Falamos aqui no bom Senhor do Bonfim, e afirmativamente, quase não se hão bordoadas ou lamurias provindas de lutas ou roubos nesta festa–diferentemente do carnaval. Fiquemos em si nas boas sensações; na alma revigorada, no trajeto exaustivo e também fortificante; na alegria, no jubilo, no enaltecer eterno, único na alma, e depois o inesquecível no corpo. Os pais e seus filhos, boas e belas pessoas, os sorrisos de pura felicidade. E em pleno dia de semana...
Isto é um pouco da baianidade que juro-te boa amiga leitora, não sei nem um décimo.O sorrir do corpo, o rejubilar da alma, numa sincronia encontrada apenas aqui, na Bahia.
Terra de harmonia – mesmo parecendo meio piegas afirmo, Terra de Harmonia.
E você, “...já foi à Bahia nega?” Não?
“...entao vá!”
Parafraseando o maior representante da baianidade o qual conheço, termino esta humilde crônica. Dorival.
Ass: Baiano das Buscas às Antigas Bahias.